sábado, 20 de julho de 2013

RIACHO DO CAMPO

A menina descalça pisa as pedras do riacho,
um calor pesado queima o corpo ao sol;
da sede buliçosa ao pé do morro, obra construída em três gerações,  
sobe o caminho que leva aos segredos dos gerais.

Vista infindável adentra os sertões,
vastidão e silêncio dos campos gerais,
de areiões atolantes e de buritis multiformes,
inundam o pensamento curioso,
Santa Felicidade!

Buriti bonito, estagnado à falta de brisa;
velho de pele trincada, mãos marcadas pela lida,
habita à beira da nascente;
água transparente brota das grotas, riscando veios mil
que arrastam consigo tristezas veredas abaixo,
banhando as almas empoeiradas de cidade,
que ali renascem, acumulam forças.

Ocupado em desembaraçar as próprias lembranças,
o tio canta A Gamela numa toada monótona;
outro, vem com a esposa escoar estresses acumulados em São Paulo;
um cuida da horta que o pai construiu -
alegria abubando amizades que se expandem;
outro, traz mais uma muda de árvore do cerrado para enfeitar os jardins;
abriram estradas, trouxeram gado, construíram currais e pontes.

Na varanda da cozinha sempre farta
- produto de uma generosidade multiplicada -,
funcionários conversam, riem, trocam notícias.
Crianças correm na grama, jovens jogam cartas, futebol,
passeiam a cavalo, fazem expedições às cachoeiras.
Passado, presente e futuro sentam-se à mesma mesa
em encontro fraterno, respeitoso,
à moda dos que se foram; 
fundadores de um tempo, de um templo,
de um modo de viver sem pressa,
com confiança e camaradagem.

Nesse lugar, a alegria é intransitiva, dispensa complementos.
Nessa terra, nessa areia, nessas águas cristalinas,
no calor do sertão mineiro,
a menina pôs os pés no riacho e dali nunca mais os tirou.
Há gerações, o ritual se repete. Seria isso a felicidade?

A meus avós Olímpia e Gervásio;
À minha mãe, Maria da Conceição;
A meus tios: Geraldo, Irmã Olímpia, Irmã Alzira, Therezinha, Joana D’Arc, Jacira,
Zezico, Zizinho, Mercedes, Antônio, Tarcísio, Gervásio, Rafael e José Eustáquio;
Aos meus primos e irmãos, e a nossos filhos e netos;
A todos que, como eu, pisaram este chão e estas águas.

Fazenda Riacho do Campo

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