Um pacto, como um casamento, implica uma obrigação mútua.
É um laço criado e selado com uma declaração
– a palavra dada, a palavra recebida, a palavra honrada com lealdade e
confiança.
Somente dentro e por meio de um vínculo como este (o
pactual) as pessoas podem agir em conjunto, criando entre si um relacionamento
que honra a liberdade e a integridade individual possibilitando, ao mesmo
tempo, que alcancem como conjunto o que não poderiam alcançar sozinhas: o bem
que passa a existir unicamente pelo fato de ser compartilhado. Um pacto é o que
transforma amor em lei e a lei em amor.
Conforta saber que posso contar com o outro e ele, por sua
vez, deve ter a certeza de que pode contar comigo. Se esta condição não vem do
domínio ou do poder, ela depende exclusivamente da confiança. E a confiança depende de eu dar a minha
palavra e mantê-la. Nós criamos o mundo social com palavras – palavras que
unem. Esta é a ideia de um pacto.
Em um pacto feito por agentes livres, respeitando a
liberdade um do outro, unem-se em nome de uma promessa mútua de trabalhar lado
a lado, de serem leais um para o outro, de conseguirem juntos o que ninguém
pode conseguir sozinho. Manter uma promessa como esta é o que se chama fidelidade.
O paradigma de um relacionamento com estas
características é o casamento, que reúne em uma única instituição os impulsos e
as preocupações mais básicas de toda a humanidade – sexo, afeto, amizade, amor,
parceria, a geração de novas vidas e o cuidado com o outro e com o vínculo. O
casamento é onde a moralidade começa, porque é o exemplo máximo do laço de
confiança, da qual dependem todos os relacionamentos sociais.
O casamento, uma das instituições humanas mais
vulneráveis, deve ser protegido no dia a dia por todo um conjunto de rituais,
costumes ligados à modéstia e ao respeito mútuo, festividades, educação e o
diálogo entre as gerações. Aqui, no pacto de amor entre marido e mulher, mais
do que em qualquer outro lugar, você testemunha a verdade de que Deus vive no
coração sem adornos da condição humana.
O casamento é a união com o “diferente de nós” que traz
nova vida à existência e nos permite vivenciar a dimensão pactual do mundo. Até
que possamos nos relacionar com o outro ser humano através do pacto – a palavra
dada, recebida e honrada em fidelidade – não podemos nos relacionar desta
maneira com Deus. A família é o lugar de origem de nossa experiência humana. Na
verdade, toda a consciência judaica está ligada à força da família. Sem uma
família organizada, temos dificuldades de viver um mundo organizado. Sem a
confiança que aprendemos quando crianças e que praticamos como parceiros em um
casamento, não poderíamos confiar tão plenamente no universo, que é a
experiência da realidade sob a soberania de Deus.
O vínculo
pactual é o único modo de conciliar liberdade e relacionamento.
Ele nos permite construir casamentos, famílias, comunidades e sociedades
baseadas no reconhecimento da nossa independência e interdependência. Em última
instância, é o único caminho capaz de levar o homem a criar uma ordem social
fundamentada na dignidade do indivíduo.
Compilação de Raquel Teles Yehezkel
In UMA LETRA DA
TORÁ
Do filósofo e
rabino inglês:
Jonathan Sacks
Editora Sêfer,
São Paulo
Rabino Lorde Jonathan Sacks

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