segunda-feira, 8 de julho de 2013

O VÍNCULO PACTUAL: um ensaio sobre o amor, as alianças e a fidelidade



Um pacto, como um casamento, implica uma obrigação mútua. É um laço criado e selado com uma declaração – a palavra dada, a palavra recebida, a palavra honrada com lealdade e confiança.
           
Somente dentro e por meio de um vínculo como este (o pactual) as pessoas podem agir em conjunto, criando entre si um relacionamento que honra a liberdade e a integridade individual possibilitando, ao mesmo tempo, que alcancem como conjunto o que não poderiam alcançar sozinhas: o bem que passa a existir unicamente pelo fato de ser compartilhado. Um pacto é o que transforma amor em lei e a lei em amor.

Conforta saber que posso contar com o outro e ele, por sua vez, deve ter a certeza de que pode contar comigo. Se esta condição não vem do domínio ou do poder, ela depende exclusivamente da confiança. E a confiança depende de eu dar a minha palavra e mantê-la. Nós criamos o mundo social com palavras – palavras que unem. Esta é a ideia de um pacto.

Em um pacto feito por agentes livres, respeitando a liberdade um do outro, unem-se em nome de uma promessa mútua de trabalhar lado a lado, de serem leais um para o outro, de conseguirem juntos o que ninguém pode conseguir sozinho. Manter uma promessa como esta é o que se chama fidelidade.

O paradigma de um relacionamento com estas características é o casamento, que reúne em uma única instituição os impulsos e as preocupações mais básicas de toda a humanidade – sexo, afeto, amizade, amor, parceria, a geração de novas vidas e o cuidado com o outro e com o vínculo. O casamento é onde a moralidade começa, porque é o exemplo máximo do laço de confiança, da qual dependem todos os relacionamentos sociais.

O casamento, uma das instituições humanas mais vulneráveis, deve ser protegido no dia a dia por todo um conjunto de rituais, costumes ligados à modéstia e ao respeito mútuo, festividades, educação e o diálogo entre as gerações. Aqui, no pacto de amor entre marido e mulher, mais do que em qualquer outro lugar, você testemunha a verdade de que Deus vive no coração sem adornos da condição humana.

O casamento é a união com o “diferente de nós” que traz nova vida à existência e nos permite vivenciar a dimensão pactual do mundo. Até que possamos nos relacionar com o outro ser humano através do pacto – a palavra dada, recebida e honrada em fidelidade – não podemos nos relacionar desta maneira com Deus. A família é o lugar de origem de nossa experiência humana. Na verdade, toda a consciência judaica está ligada à força da família. Sem uma família organizada, temos dificuldades de viver um mundo organizado. Sem a confiança que aprendemos quando crianças e que praticamos como parceiros em um casamento, não poderíamos confiar tão plenamente no universo, que é a experiência da realidade sob a soberania de Deus.

O vínculo pactual é o único modo de conciliar liberdade e relacionamento. Ele nos permite construir casamentos, famílias, comunidades e sociedades baseadas no reconhecimento da nossa independência e interdependência. Em última instância, é o único caminho capaz de levar o homem a criar uma ordem social fundamentada na dignidade do indivíduo.

Compilação de Raquel Teles Yehezkel
In UMA LETRA DA TORÁ
Do filósofo e rabino inglês:
Jonathan Sacks
Editora Sêfer, São Paulo


                  Rabino Lorde Jonathan Sacks


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