sábado, 17 de março de 2018

Os Rios de Belo Horizonte

Em Belo Horizonte caiu um temporal que mesmo estando em Israel, acompanhei ao vivo, com temor. A chuva diluvial me conduziu aos anos de infância e juventude nessa cidade que amo. BH se assenta sobre vários rios que, represados nos anos de 1970, viraram ruas e avenidas, pelas quais as novas gerações passam ser saber que estão trafegando sobre o leito de águas adormecidas.

No início de 1979, presenciamos então a maior enchente na história da cidade, que deixou milhares de desabrigados. Sem teto, essa população foi levada para habitar um complexo de casas populares então recém-construído pelo governo do Estado, ao lado da atual Cidade Administrativa - o Morro Alto; onde, pouco depois, fiz estágio como professora de História durante todo o ano de 1983.

Entre os ribeirões que cortam Belo Horizonte, dos quais me lembro, está primeiro o da rua São Paulo, córrego do Leitão, que vinha desde a Prudente de Morais, descia a Bárbara Heliodoro, São Paulo e, cortando Av. Augusto de Lima, seguia a Padre Belchior em direção ao Mercado Central, para dali encontrar o Arrudas em alguma parte, Tupis abaixo. Eu morava na região e descia à pé do Estadual Central ou do Minas Tênis para minha casa, na esquina da São Paulo com Tupis.

Era também a céu aberto o córrego que corria toda a extensão da Av. Uruguai, desde a Praça Jk - o Acaba Mundo -, parte da Nossa Senhora do Carmo, e seguia pela Professor Morais em direção ao Arrudas, pela Região dos Hospitais. Havia mais um na Francisco Sá, no Gutierrez, que também descia para o Arrudas, na região da Contorno.

E o grande Arrudas, imperador poluído por todo tipo de dejetos, vindo desde Contagem até Beagá pela região da Tereza Cristina, Carlos Prates, Pedro II, ainda hoje aberto na região da Av. dos Andradas, Parque Municipal, Praça da Estação, Floresta, seguia para a Cidade Nova até encontrar a Bacia do histórico Rio das Velhas, em Sabará.

Não sei todos os nomes nem sei bem os cursos desses córregos que nascem em BH e imediações e correm como veias pelo coração da cidade. Sei que de tempos em tempos eles reclamam o leito estreito e impõem sua presença... E, se unindo ao Arrudas, chegam a Sabará, ao Rio das Velhas, que vem do sul, cortando a região central de Minas. Daí essas águas encontrarão o velho São Francisco (que nessas alturas já passou pelas terras dos meus antepassados em Bom Despacho-Dores: minha mãe achava que esse rio imenso, que cortava a fazenda Lagoa Verde onde nasceu, era do pai dela rsrsrs), desaguando lá no mar da Bahia.

Um grande corpo flutuante - a água da chuva, os pequenos ribeirões de BH, o Arrudas, o Rio das Velhas, o São Francisco, o Atlântico - uma água só...

Texto de 17.3.2018


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