terça-feira, 6 de março de 2018

Judeus da Babilônia / Judeus de Bavel

Comemoramos numa manhã de sexta-feira, os 80 anos da minha sogra, que, como muitos judeus da Diáspora, não sabe a data precisa de seu nascimento, sabe apenas que é próxima a Purim. Fizemos um passeio pelas raízes da família no Museu da Herança Judaica da Babilônia / Babylonian Jewry Heritage Center, em Or Yehuda, Israel; com café da manhã tradicional, sessão de fotos, passeio guiado pelo museu e um stand up comedy sobre a absorção dos imigrantes do Iraque em Israel. 

Os imigrantes judeus do Iraque, ou Bavel / Babel, migraram para Israel entre 1950 a 1955, após a Segunda Guerra, quando o governo do Iraque permitiu a saída dos judeus com apenas 30 kg por pessoa, sem dinheiro e sem joias, só com aliança de casamento na mão. Aconteceu que, na onda do nazismo alemão na Europa, houve um Farhud / Massacre/ Pogrom contra os judeus em 1 e 2 de junho de 1941 em Bagdá, quando cerca de 170 judeus foram mortos e  2500 foram feridos ou mutilados, tendo suas casas e lojas invadidas. Depois disso, os judeus perderam a confiança nos vizinhos e no governo, incapaz de protegê-los, iniciando um movimento de pressão para receber autorização de migrarem para Israel, formando o movimento sionista do Iraque, ou seja, o movimento de retorno ao Sião, região de Jerusalém. Meus sogros saíram do Iraque para Israel em 1950.

Minha sogra, Nadra Yehezkel, filha de Regina e Yossef Sasson, tinha 12 anos e a família dela foi encaminhada pelo serviço de imigração para Nazaré Elit, região da Galileia. Depois se instalaram de forma definitiva em Ashquelon, onde se encontra o mitológico parque arqueológico com as ruínas da destruição causada por Sansão. Meu sogro, Meir Yehezkel, filho de Naima Mizrahi e de Eliyahu Yehezkel, tinha 13 anos ao chegar a Israel, onde sua familia foi enviada para Ekron, município de Rehovot. Eles se casaram em Israel, quando ela tinha 21 anos e ele 22, por meio de shiduch, um arranjo entre as famílias que se conheciam ainda do Iraque. 

Ao sair do Iraque, os judeus tiveram que abandonar suas casas, comércio e todos os bens, deixando o país apenas com a roupa e o que pudessem juntar em 30 kg, que não fossem objetos de valor. Muitos conseguiram passar valores em saltos de sapato, bainha de roupas ou de outras formas criativas. 

Os judeus oriundos do Iraque, como os meus sogros, ao chegar em Israel, moraram em tendas e depois em maabarot (casas provisórias de madeira fornecidas pelo governo no processo de absorção dos novos imigrantes), mas logo se absorveram na jovem sociedade israelense, pois faziam parte uma imigração forte e estudada. 

Deixaram para trás 2500 anos de cultura judaica rica e expressiva. Desde a destruição e saqueamento do Primeiro Templo pelo rei da Babilônia, Nabucodenosor, cerca de 450 AC, até os anos de 1950 judeus viveram na região da Babilônia, atual Iraque. Até o século 11, essa região, conhecida entre os judeus por Bavel ou Babel, foi o pólo central do judaísmo na Diáspora, passando depois para a Espanha. Mas até o século 18, a yahadut / judaísmo de Bavel permaneceu ditando as regras conforme o Shulhan Aruch bavélico / código de costumes judaicos. 

Para mim é motivo de orgulho meus filhos e eu sermos parte das familias Sasson (da minha sogra), Mizrahi e Yehezkel (do meu sogro), judeus oriundos de Bavel.

Texto de Raquel Teles Yehezkel
2/3/2018


Yehezkel Family

Babylonian Jewry Heritage Center



Babylonians Jewry Heritage Center:
https://www.bjhc.org.il/
https://www.facebook.com/babylonjewry/


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