sábado, 13 de dezembro de 2025

Festa Nova e o Cemitério de Carros

Como testemunha do massacre de 7 de outubro à população do sul de Israel, visitei o local do Festival Nova de música em memória dos 360 jovens pacifistas, amantes da música e da dança, vítimas inocentes que encontraram o seu fim ali, enquanto outros 40 foram sequestrados dali para Gaza, e centenas ficaram gravemente feridos, só neste local.  

A invasão do território israelense pelo Hamas, com cerca de 6 mil homens na manhã de 7 de outubro de 2023, deixou um rastro de destruição com 1.200 mortos, 4.500 feridos e 240 reféns, tudo em menos de 24 horas - em proporção, seria como dizimar 40 mil e sequestrar 5 mil norteamericanos, se a invasão fosse nos Estados Unidos. 

Entre as vítimas do Festival de música estavam os brasileiros Bruna Valeanu, Ranani Glazer, Karla Stelzer, além de dezenas de outros brasileiros que lá se encontravam, já que a festa era uma adaptação do Festival Universo Paralelo do DJ brasileiro Alok. Inclusive o pai dele, Juarez Petrillo, estava no palco quando os alarmes antibombas começaram a soar. Perdeu a vida também em Reim, Michel Nisenbaum, brasileiro guia de turismo, que morava na região, e que estava em seu carro fazendo viagens para salvar pessoas, quando foi assassinado. Seu corpo foi levado para Gaza, onde mais de uma depois foi resgatado pela IDF, enterrado em um dos túneis de Gaza com mais dois jovens israelenses que estavam na Festa Nova.

Visitar o memorial em Reim foi para mim, que acompanho tudo muito de perto e conheço histórias e nomes, um processo doloroso e catártico, mas algo que eu precisava viver e testemunhar para a posteridade. 

Próximo ao local do Festival há um cemitério dos carros destruídos naquele dia. São mais de 1.500 carros empilhados em tal nível de destruição que fica difícil reconhecer que aquilo são veículos... 

No cemitério de carros, há destaque especial para jovem Ben Shimoni, que em seu carro salvou a vida de cerca de 50 jovens. Por ser da região, Ben conhecia os caminhos, foi e voltou quatro vezes, até que teve sua vida ceifada por terroristas armados. Outros também fizeram o mesmo que Ben, como Michel Nisenbaum, segundo testemunhas sortidas por ele. 

Fica aqui o meu registro dessas pequenas histórias e da minha reverência às vítimas de 7 de outubro, àquelas que morreram inocentemente em suas casas e na Festa Nova e àquelas que morreram lutando. "Nunca mais", referência à Shoá (Holocausto), deveria ter sido realmente nunca mais...

Raquel Teles Yehezel 

1.7.2024

Em memória de Bruna Valeanu 

Em memória de Ranani Glazer

Pai e filha com paralisia cerebral mortos no Festival Nova, a adolescente adorava as festas de música 


Cemitério dos carros de 7 de outubro de 2023

O carro de Ben Shimoni, que salvou cerca de 50 pessoas até perder a própria vida





Kerem Hashalom/ Vinhedos da Paz

Fui com um grupo de brasileiros visitar o entorno de Gaza e o kibutz Kerem Hashalom (Vinhedos da Paz), localizado no ponto mais extremo ao sul de Israel, na fronteira tríplice de Israel, Gaza e Egito, a 800 metros de Rafah, um dos muitos kibutzim da região que conseguiram conter a invasão do Hamas ao centro de Israel.

O kibutz Kerem Hashalom é formado por israelenses idealistas que fundaram um microcosmo que espelha a sociedade israelense: famílias laicas e religiosas que buscam o desafio de conviver com as diferenças, com respeito, harmonia e democracia. Entre as famílias, há uma brasileira, prima do rabino Ivo Zilbermam, da Kehilat Or Israel de Raanana. O kibutz tem até a Praça Brasil, em homenagem a brasileiros que contribuiram com a plantação de árvores e de um vinhedo no Kibutz. 

Na manhã de 7 de outubro, o Kibutz, que tem 28 famílias, abrigava 50, pois era o último dia das férias de Sucot / Tabernáculos e o kibutz estava cheio de familiares e convidados se preparando para o feriado de Simchat Torah, quando, em todas as sinagogas do mundo, recomeçam o novo ciclo da leitura da Torah - em Gênesis. E quando os alarmes antimísseis soaram por toda a região, ninguém poderia imaginar o que estava por vir. 

Fomos recebidos no Kibutz completamente vazio, declarado como zona de guerra, pelo membro do kibutz Dudi Rabi, que nos contou como sobreviveram à invasão do Hamas. Segundo Dudi, os muros que fazem a fronteira com Gaza e que cercam o Kibutz por aquele lado têm 50 metros de profundidade, para evitar os túneis, e 5 metros de concreto armado acima do solo. Para além dele, há uma zona de segurança vazia (que aparece nas fotos), com duas cercas elétricas monitoradas por câmaras. Eles se sentiam seguros, com esta proteção tecnólogica e com uma equipe de segurança bem formada (kitat hakonenut). Com todas as famílias protegidas em quartos-abrigos dentro de suas próprias casas, logo que foram informados de que havia penetração de terroristas no território israelense, se armaram de prontidão. Ele era da equipe e logo teve que deixar sua esposa e seis filhos em casa, dentro do abrigo, e sair para o combate. Todos se comunicavam por grupos de whatsapp. 

Havia no muro de fronteira entre Israel e Gaza 90 pontos de vigília computadorizados, que enviam imagens para postos de segurança e que naquela manhã não funcionaram. Assim, pessoas do Hamas armados com bombas, detonaram e romperam o muro de concreto em mais de 100 pontos diferentes ao longo de toda a fronteira de 60 km, por onde entraram cerca de 6 mil homens. 

O muro que fazia fronteira com o Kibutz Kerem Hashalom foi rompido e por ali entraram dezenas de terroristas do Hamas. Na equipe de segurança do Kibutz (kitat hakonenut) havia 12 pessoas, 9 membros do Kibutz e 3 soldados do exército. Quando viram terroristas dentro do Kibutz pediram socorro à base de Reim, mas foram informados que eles também estavam sob ataque e que não poderiam mandar reforço naquele momento. Durante horas combateram dentro do kibutz, até que chegou um helicóptero que, com as coordenadas dos combatentes do Kibutz, atirou na região das placas de energia solar de onde saíram cerca de 50 terroristas ali escondidos - filmados pelo helicóptero. 

Em certo momento, receberam mensagem de que a primeira casa, a próxima ao muro, fora invadida e que tentavam arrombar a porta do abrigo antibomas, cujo pai, Amichai Schindler, segurava no braço pelo lado de dentro. Dudi e mais dois combatentes foram em direção à casa dos Shindler e ao chegarem lá Amichai Waitsman foi abatido por tiros vindos da janela da casa e, logo em seguida, Yedidiya Raziel recebeu tiros vindos do muro detonado. Dudi se aproximou e viu que o amigo estava sem pulso, então jogaram uma granada em sua direção. Enquanto isso, dentro da casa, Amihay Sindler continuava a segurar a porta na força, até que jogaram ali uma granada e ele teve os dois braços decepados. De alguma forma as forças de segurança conseguiriam adentrar e retomar o domínio da casa. Dudi então pediu socorro a um médico que estava no Kibutz. Às 12 horas chegou reforço de 30 soldados, e então conseguiram retomar o domínio do Kibutz, neutralizando os terroristas que entraram por ali. 

Apenas às 20h da noite do dia seguinte, no domingo, as famílias foram autorizadas a deixar os abrigos em direção aos ônibus que chegaram para evacuar o Kibutz Kerem Hashalom em direção ao Mar Morto. Ao se reunirem na praça central, ficaram emocionados ao verem cerca de 200 pessoas, todas vivas, sobreviventes deste ataque. O Kibutz havia perdido 2 membros, Amihay Waitsman e Yedidiya Raziel e outros dois soldados do exército. Outros que chegaram em socorro morreram lutando nas cercanias do kibutz naquele dia. Havia muitos terroristas abatidos dentro do kibutz. 

Ao deixarem o kibutz, se comoveram com o que viram: havia filas e filas de carros de cidadãos israelenses que chegavam por conta própria à região da fronteira, para, de forma voluntária, lutar contra os terroristas. Eles não estavam sozinhos, Am Israel estava lá para ajudá-los. 

Os membros do kibutz Kerem Hashalom passaram quatro meses num hotel do Mar Morto, depois foram transferidos para um kibutz na região de Mitzpeh Ramon até haver uma resolução definitiva. 

A visita ao Kibutz de fronteira e em especial à casa da família Shindler, ainda enfeitada com adornos de Rosh Hashanah, foi uma experiência muito difícil, mas essencial como testemunha destes trágicos eventos. 

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Raquel Teles Yehezel 

1.7.2024


Visita ao Entorno de Gaza (Otef Aza) foi organizada pela comunidade da sinagoga brasileira Or Israel de Raanana, liderada pelo rabino Ivo Zilberman. Marcel Berditchevsky foi o guia desta visita. Dudi Rabi foi nosso receptor no Kibutz e nos contou tudo isso que aqui relato em primeira mão. E contou muito mais, mas não caberia neste curto relato. 

Que a memória de Amihay Waitsman, de Yedidiya Raziel e todos os outros que pereceram neste ataque seja sempre luz e benção sobre toda Israel.

Jardim do kibutz Kerem Hashalom na triplece fronteira de Israel com Gaza e Egito

Visão do muro por onde entraram e 
da casa dos Schindler 

Fotos dos rompimentos do muro

Amihay Waitsman e Yedidiya Raziel e outros que chegaram em socorro morreram lutando nas cercanias do kibutz

A sinagoga do kibutz 

Lista de brasileiros que ajudaram a plantar o vinhedo da paz e novas árvores no Kibutz Kerem Hashalom 



domingo, 30 de novembro de 2025

Adeus, meu Lô

 Lá se vai nosso menino,

em noite equatorial,

na cauda da via-láctea,

num vagão de um trem azul,

deixando-nos um legado lindo,

atemporal, de poesia e liberdade...

Da terra azul, da cor do seu vestido,

ao girassol, pra sempre,

à cor do seu cabelo...

Privilégio ter cruzado a Divino com Paraíso,

caminhar por Santa Tereza,

ter curtido tanto o Clube da Esquina...

Adeus, amor de juventude...

Ficamos com a honraria de seguir com o seu legado...

Vai lá, baixe o disco do Tênis,

baixe O Trem Azul

e o Via Láctea (Equatorial)

em viagem transcendental...

Tem ali o mundo,

tem a vida inteira...

pulsando

em palavras e melodias...

Adeus, meu Lô... 💗

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Raquel Teles Yehezkel

À Salomão Lô Borges

3/11/2025



domingo, 20 de julho de 2025

O Timing Divino

Hoje me despedi das minhas plantinhas... Eram três, todas lindinhas. Uma delas, de raiz de bulbos, era forte e tinha uns dez anos, presente da ex-aluna Shuly Digmi, estava um pouco escassa, pois o vaso havia se tornado pequeno para sua beleza... A outra, tinha quatro anos, um presente da irmã do Eli Israeli, por ocasião da inauguração do Cantinho do Eli em homenagem à sua linda passagem por este mundo. A pequenina das três tinha um ano, foi pelo professor André ter começado o seu percurso com a gente no Instituto Guimarães Rosa Tel Aviv... 

Eu estava saindo de férias por um mês e não queria que elas morressem no alto verão israelense. No ano anterior, elas ficaram em condições deploráveis quando viajei e não chegaram a se recuperar totalmente. Não que não tenham sido bem-cuidadas, a Norma que trabalha comigo adora plantas, é acostumada a elas e as regou como devia. Mas talvez por sentirem a falta da "mão do dono"? 

Então, para não fazê-las sofrer, reguei-as pela manhã para aguentarem o tranco do abandono, deixei a água escorrer, ajeitei-as em uma sacola de pano bem aberta e confortável com a intenção  de atrair o próximo dono que iria recolhê-las na rua... E qual não foi a minha surpresa!!! Enquanto ajeitava a sacola no banco da Sderot Hen, bem em frente ao meu trabalho, veio caminhando em minha direção uma moça asiática muito linda, sorridente e cheia de vida... Carregava uma planta embrulhada nas mãos e me perguntou o que é isso, você está dando as plantas? Disse que estava viajando e que precisava de alguém que as quisesse levar. Posso levar?, perguntou entusiasmada umas três vezes. Claro, agora são suas!!! Ela parecia não acreditar na bênção que lhe caía do céu. Nem eu... 

Assim nos separamos, as duas, felizes da vida! Ela por agregar as minhas plantinhas recém-regadas às delas, e eu por ter encontrado o coração certo para recebê-las!!! 

São os anjos que a vida nos trazem... E o timing que só Deus saberia proporcionar!

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Raquel Teles Yehezkel 

Tel Aviv 18.7.2025




quarta-feira, 7 de maio de 2025

O bafo do deserto

Nessa manhã, 

o bafo do deserto 

soprou sobre o país.

Vento quente e pesado, 

o "oveh"...  


Levantou areia e poeira,

invadindo tudo 

que lhe desse passagem... 


O calor aliado ao vento

propiciaram focos de incêndios 

espalhados por quilômetros...

Ainda não debelados... 

Bombeiros e voluntários 

unem forças em várias frentes... 


É um "Yom Hamissim",

que, traduzido do árabe, 

é um "Dia dos Cinquenta" dias 

em que o vento do deserto 

sopra sobre a região, 

cobrindo, carros, cidades, campos, estradas, países, 

tudo... 


Um dia de calor e pó incomuns, 

que hoje se alastrou

com a força de um fogo... 

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23.4.2025


Tel Aviv em dia de oveh / yom Hamissim










quinta-feira, 27 de março de 2025

Um anel para David

Um aluno chegou ao centro cultural e perguntou como eu estava... Pois é, tempos difíceis, disse... "Isso também vai passar", respondeu. E perguntou se eu sabia de onde vinha esta expressão... Eu que me acho muito entendida de cultura hebraica rsrs nem sabia que isso poderia ser uma expressão, busquei no meu baú de conhecimentos rasos e respondi: Avarnu at Faro, naavor gam at zê, me referindo ao conhecido ditado hebraico para os momentos difíceis: Passamos pelo Faraó (referência à saída do Egito), vamos passar isso também... Ou pode ser a conhecida música rap Gam zê yaavor / Isso tb vai passar, completei bem segura de ter passado o teste de conhecimentos gerais. Então ele perguntou, você não conhece a lenda do ourives ao qual o rei David encomendou uma joia muito especial? Não, não conhecia... 

Yosi, um ativista social engajado, disposto a fechar esta lacuna em meus conhecimentos, puxou a cadeira, se sentou à minha frente e me contou uma das muitas histórias populares surgidas em torno da sabedoria de Salomão...

Estava o ourives de David caminhando cabisbaixo pelos jardins do palácio quando se encontrou com o filho do rei, o sábio Salomão. Por que está tão preocupado?, perguntou o príncipe ao ourives? Seu pai me encomendou a joia mais especial que eu pudesse criar, e como já criei para o rei todo tipo de joias caras, o que mais poderia eu fazer? Salomão pensou e disse, faça um anel simples e grave nele as iniciais ג.ז.י. Confiante no saber de Salomão, assim fez o ourives. Ao ver o anel, o rei ficou nervoso e quis saber o que significava aquelas inciais. Pergunte a Salomão, respondeu o ourives. O pai chamou o filho e exigiu explicações. Salomão respondeu que o anel e as insígnias continham todo o saber da vida: que o anel o faria lembrar que quando estivesse no alto, isso passaria; e quando estivesse no mais baixo da vida, isso também passaria: Gam (גם) zê (זה) yaavor (יעבור) / Isso também vai passar... 

Como o Croks, como o Walkman, como o Disco, como Nathaniayu, como o Hamas, como Bolsonaro, como Lula, como Putim, como Trump, como Khamenei, como Assad, como Erdogan... Como nós mesmos... 

Raquel Teles Yehezkel 

Tel Aviv 25.3.2025









sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Ehud Banay e o menino de 30 anos em nós

(Português/ עברית)

O menino de 30 anos com febre alta, que volta ao quarto de sua adolescência na casa de seus pais, completa 70 anos! A história dele acontece em paralelo à minha, nos anos 80, quando encontramos o amor, nos casamos e tivemos filhos, pois ele viveu uma juventude que se estendeu tardiamente, enquanto eu vivia a minha. Só hoje, após tantos anos, ao ler um artigo sobre seu aniversário de 70 anos, entendi esta canção por completo: A yeled ben 30 / O menino de 30 anos. Segue a história.

No início dos anos 80, aos 29 anos, Ehud teve uma indisposição com febre alta, e o médico recomendou repouso, que ele resolveu fazer na casa de seus pais, a qual já havia deixado. 

Há muito tinha terminado o exército, havia rodado pela Europa, mas ainda procurava a si mesmo e uma direção a seguir. Gostava de música e de escrever, mas sua primeira produção musical tinha sido um fiasco. Nesse dia da febre, a mãe já estava muito doente e ele, indisposto. Quando foi tomar água na cozinha, viu-a no sofá, e voltou ao quarto, apesar da tentativa dela de travar alguma conversa com o filho. E esta foi a última cena que ele guardou dela, pois ela morreu logo depois, deixando-o com o sentimento de culpa. 

Naquele ano de luto, decidiu escrever um livro (que não publicou), e na margem do caderno, saudoso da mãe, escreveu: "apresse-se, por favor, a colocar um curativo em meu coração"... Logo nessa época, ele encontrou o amor que havia procurado por tantos caminhos distantes, Odelia, que morava bem perto de sua casa. Imediatamente entendeu que era a mulher de sua vida. Se casaram, e à primeira filha chamaram de Miriam, como a mãe dele. 

Numa entrevista que deu há alguns nos, disse que ter Miriam-filha dentro de sua casa (beiti ou beti, em hebraico, pode ser minha casa ou minha filha, com a simples inclusão ou exclusão de um i / yud) foi ter a oportunidade de se reconciliar, de forma bem próxima, com sua mãe. 

Dez anos depois de haver escrito aquela frase no caderno, ele reabriu-o, leu a frase à margem dos textos, e escreveu a música que estourou nas paradas de sucesso: Hayeled ben 30 / O menino de 30. E a frase escrita na margem do caderno se tornou a mais conhecida: "Apresse-se, por favor, a cobrir a ferida em meu coração"! Algo que lhe era tão íntimo ressoou estrondosamente na música israelense como universal, sentimento compartilhado por muitos. O casamento / zevug dele, a filha, o sucesso na carreira, ele credita à mãe que lhe cobriu as feridas desde o Céu... 

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Raquel Teles Yehezkel 

13.4.2023

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A seguir, deixo a letra da música traduzida, o artigo original em hebraico, e essa música tão tocante e potente, procurem no YouTube. Deixo também nosso desejo de vida longa, feliz e produtiva ao nosso amigo Ehud Banai - meu, do Nissim e de nossos três filhos, que o acompanhamos sempre em discos, fitas, ipod, spotfy, shows e em muitos momentos de nossa família reunida ao som de suas músicas que tocaram nossas almas.

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APRESSE-SE, POR FAVOR / EHUD BANAI


A criança de 30 anos está com febre alta

Deitado no sofá na casa de seus pais

Sim, ele tem 30 anos, está com febre alta

E retorna ao quarto de sua juventude.

Sua mãe chega e diz "beba algo quente"

Ele fica irritado e responde "Não, agora não"

Ele olha para a estante de livros velhos,

Histórias que marcaram sua vida...


Apresse-se, por favor, e coloque um curativo sobre o meu coração

Antes de me colocar para dormir

E me conte sobre a criança que fui

E como ficava feliz à primeira chuva...


A criança de 30 anos está com febre alta

Ele está “despedido” de trabalho e de amor

Sim, ele tem 30 anos, mas não sabe ainda

O que fazer quando terminar o exército...

A mãe chega e diz "vamos para a sala"

Ele fica irritado e responde "Não, agora não"

Ele olha para o rack de discos antigos

As canções que preencheram sua vida.


Você agora é uma estrela

Brilhando no espaço

E volta para a minha casa

Sim, agora você está comigo

E eu chamo pelo seu nome à minha filha.


A criança de 30 anos está com febre alta

Deitado no sofá na casa de seus pais

Sim, ele tem 30 anos, está com febre alta

E retorna ao quarto de sua juventude.

Sua mãe chega e diz "você tem uma carta"

E a faísca de repente volta aos seus olhos

Ele sente o cheiro da chuva que se aproxima no ar

E traz o amor de sua vida.


Apresse-se, por favor, a cobrir a ferida no meu coração

Antes de me colocar para dormir

E me conte sobre a criança que fui

E como ficava feliz à primeira chuva...

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בתקופה של ייאוש בחייו. לפני שהצליח לפרוץ בתור מוזיקאי כשהוא בן עשרים ותשע. מובטל מעבודה ואהבה. ואז, חום גבוה החזיר אותו לבית הוריו. 


"הַיֶּלֶד בֶּן שְׁלוֹשִׁים, יֵשׁ לוֹ חֹם גָּבוֹהַּ

הוּא שׁוֹכֵב עַל הַסַּפָּה בְּבֵית הוֹרָיו

כֵּן הוּא בֶּן שְׁלוֹשִׁים, יֵשׁ לוֹ חֹם גָּבוֹהַ

הוּא חוֹזֵר אֶל חֶדֶר נְעוּרָיו.

אִמָּא בָּאָה וְאוֹמֶרֶת "תִּשְׁתֶּה מַשֶּׁהוּ חַם"

הוּא מִתְעַצְבֵּן וְאוֹמֵר "לֹא, לֹא עַכְשָׁו"

מִסְתַּכֵּל עַל אֲרוֹן הַסְּפָרִים הַיְּשָׁנִים

סִפּוּרִים שֶׁלִּוּוּ אֶת חַיָּיו .


מַהֲרִי נָא וְהָנִיחִי עַל לִבִּי תּחְבֹּשֶׁת

בְּטֶרֶם תַּשְׁכִּיבִינִי לִישׁוֹן

וְסַפְּרִי לִי עַל הַיֶּלֶד שֶׁהָיִיתִי

אֵיךְ שָׂמַחְתִּי עַל הַגֶּשֶׁם הַרִאשׁוֹן.


הַיֶּלֶד בֶּן שְׁלוֹשִׁים, יֵשׁ לוֹ חֹם גָּבוֹהַּ

הוּא מֻבְטָל מֵעֲבוֹדָה וְאַהֲבָה

כֵּן, הוּא בֶּן שְׁלוֹשִׁים, אֲבָל עֲדַיִן לֹא יוֹדֵע

מָה יַעֲשֶׂה כְּשֶׁיִּגְמֹר אֶת הַצָּבָא.

אִמָּא בָּאָה וְאוֹמֶרֶת "בּוֹא קְצָת לַסָּלוֹן"

הוּא מִתְעַצְבֵּן וְאוֹמֵר "לֹא, לֹא עַכְשָׁו"

מִסְתַּכֵּל עַל מַדַּף הַתַּקְלִיטִים הַיְּשָׁנִים

הַשִּׁירִים שֶׁלִּוּוּ אֶת חַיָּיו .


אַתְּ עַכְשָׁו כְּמוֹ כּוֹכָב

מְנַצְנֵץ, בַּמֶּרְחָב

אַתְּ חָזַרְתְּ אֶל בֵּיתִי

כֵּן, עַכְשָׁו אַתְּ אִתִּי

אֲנִי קוֹרֵא בִּשְׁמֵךְ לְבִתִּי.


הַיֶּלֶד בֶּן שְׁלוֹשִׁים, יֵשׁ לוֹ חֹם גָּבוֹהַּ

הוּא שׁוֹכֵב עַל הַסַּפָּה בְּבֵית הוֹרָיו

כֵּן הוּא בֶּן שְׁלוֹשִׁים, יֵשׁ לוֹ חֹם גָּבוֹהַ

הוּא חוֹזֵר אֶל חֶדֶר נְעוּרָיו.

כְּשֶׁאִמָּא בָּאָה וְאוֹמֶרֶת "יֵשׁ לְךָ מִכְתָּב"

הַנִּיצוֹץ חוֹזֵר לְפֶתַע אֶל עֵינָיו

הוּא מֵרִיחַ בָּאֲוִיר אֶת הַגֶּשֶׁם מִתְקַרֵב

וּמֵבִיא אֶת אַהֲבַת חַיָּיו.


מַהֲרִי נָא וְהָנִיחִי עַל לִבִּי תּחְבֹּשֶׁת

בְּטֶרֶם תַּשְׁכִּיבִינִי לִישׁוֹן

וְסַפְּרִי לִי עַל הַיֶּלֶד שֶׁהָיִיתִי

אֵיךְ שָׂמַחְתִּי עַל הַגֶּשֶׁם הַרִאשׁוֹן.

הילד כבר לא בן 30 אלא שבעים. כן כן, מזל טוב לזמר והיוצר אהוד בנאי שחוגג יום הולדת 70. 


כשאהוד בנאי היה בן 29 אוטוטו מתקרב לשלושים. הוא חזר ממסע תרמילאים. הוא נדד ברחבי אירופה. בקיץ 1977 הפליג לטיול בן חודשיים בכרתים. שם קנה תקליט של הזמר היווני דימיטריס מיטרופאנוס. ואנחנו עוד נחזור לתקליט הזה בהמשך הסיפור על השיר. כשחזר ממסע הנדודים הוא המשיך לחפש את עצמו והחל לעבוד בעבודות מזדמנות. קצת מיואש מהסיכוי והחלום להיות מוסיקאי.  בשנת 1982 הוציא בנאי על חשבונו סינגל ראשון לרדיו בשם "איידישע ראסטה מאן" אך הוא נחל כישלון וכמעט ולא שודר. הדוד יוסי בנאי ז"ל.  סידר לו תפקיד במחזמר שהפיק, "כמו ציפורים". תפקידו היה של צועני אילם. ואז. כשהוא ללא עבודה קבועה ואהבה, חלה בברונכיט, היה לו חום גבוה. ההורים הזמינו את רופא המשפחה שציווה עליו להישאר ולנוח בבית הוריו. ובחדר נעוריו. 


 "כשאני הייתי בן 30, זאת הייתה שנה מאוד משמעותית בחיים שלי", 

הודה בנאי בראיון לגל אוחובסקי, "שנת 82, שנה של מלחמת לבנון. גם השנה שבה הכרתי את אישתי, וגם השנה שבה אמא שלי נפטרה". 

לילה אחד קם אהוד בנאי מהמיטה לקחת שתיה מהמקרר. וראה בזווית עיניו את אמו, שהייתה אישה חולה, יושבת בסלון, מחכה ורוצה שהוא ידבר איתה. אבל הוא רק אמר לילה טוב והלך לישון. למחרת כשהוא עם חום גבוה. הידרדר מצבה של אמו, היא אושפזה נכנסה בלילה לניתוח ונפטרה, בגיל 54.  "הלילה הזה חזר אלי בלי סוף. למה לא ישבתי לדבר איתה איזה שתי דקות. והייתה לי תחושה של אשמה והחמצה מאוד גדולה" סיפר בנאי בפרק בהסכת "שיר אחד" שהוקדש לשיר, 


ביום שבו חזר מן השבעה על אמו. חזר אהוד לחזרות להפקה של הדוד יוסי בנאי. אחת הרקדניות במחזמר הייתה אודליה. שחיפשה  טרמפ לר"ג 

והוא הסיע אותה. הם הפכו לזוג. וחמישה חודשים אחרי מות אמו הם התחתנו והקימו את משפחתם. "היא גרה חצי קילומטר מאיפה שאני גרתי ואני כל החיים חיפשתי  אותה באירלנד בסקוטלנד או באיי יוון. אבל הייתה לי הרגשה ברגע שהבנתי מה מתבשל עם אודליה. שאמא שלי עלתה למעלה ואמרה עכשיו אני עושה בלגן עד שתביאו לי זיווג לבן שלי. עכשיו אני רוצה את זה כי זה מה שקרה. וממש הרגשתי את זה מתוך מיסטיקה פנימית שלי" 

חלפו שנתיים ולאהוד בנאי ואשתו נולדה בתם הבכורה והם קראו לה מרים על שם אמו. "ברגע שאני קורא בשמך לבתי פתאום יש איזו תחושה של פיוס עם אמא שלי זו הייתה בעצם הנחמה שלי. על הלילה הזה שלא דיברתי איתה והקושי הזה נהפך למשהו אחר". 


בינתיים החל אהוד בנאי לפקפק בבחירת הקריירה המוזיקלית. אז הוא פנה לכישרון השני שלו, כישרון הכתיבה, והחל לכתוב ספר. בזמן שהוא כתב הוא שמע מוזיקה. היה זה התקליט ההוא של הזמר היווני דימיטריס מיטרופאנוס.

שקנה באתונה בכספו האחרון. והיה בתקליט שיר יווני ישן, "קח אותי", של הזמרת היווניה רנה פאנטה. ופתאום הוא מפסיק רגע לכתוב את הספר  

והחל לכתוב בשולי הדף במחברת  מילים לשיר, על בסיס המנגינה ששמע. 

הוא כתב: "מהרי נא והניחי על לבי תחבושת, בטרם תשכיביני לישון, וספרי לי על הילד שהייתי, איך שמחתי על הגשם הראשון". כי הוא נזכר שאמא שלו  תמיד סיפרה לו, איך בילדותו התפרץ בשמחה כשירד הגשם הראשון. אהוד בנאי  לא המשיך לכתוב את הספר. את המחברת שבה כתב אותו הכניס למגירה, ובה גם המילים הללו. 


חלפה שנה ב-1985, בגיל 32. משהו בחייו של בנאי מתחיל להשתנות. בן דודו יובל בנאי סולן להקת משינה מבקש מאהוד לכתוב את המילים לשיר "רכבת לילה לקהיר" השיר שכתב נהיה להיט ענק. ואהוד נענה להפצרות של אודליה ושל אביו, השחקן יעקב בנאי, וניסה שוב את מזלו במוסיקה. הוא הוציא את שירו "עיר מקלט" שהיה גם ללהיט. ושנתיים אחר כך יוצא אלבום הבכורה שלו "אהוד בנאי והפליטים" שזכה להצלחה גדולה. ואחרי כל השנים והנדודים החלום של אהוד בנאי לעסוק במוזיקה מתגשם. 


"סיפורים שליוו את חייו". בשנת 1994 אהוד בנאי החל לחפש חומרים לאלבום חדש. וכשהוא מחפש שירים הוא מתחיל לחפש במחברות הכי ישנות שיש לו 

כי הוא אף פעם לא זרק אותם מדפדף ומדפדף. ואז הוא נתקל במחברת שבה ניסה לכתוב את הספר 10 שנים קודם לכן. הוא קרא בה והגיע לעמוד שבו כתב את ארבע השורות לאמא שלו. "ישר שלפתי אותם משם ואז נכתבו הבתים סביבם". בכולם הוא מספר את הסיפור שעבר בגיל 30, ובשיאו, נקודת המפנה – קריאת שמה של אמו לבתו. את הפזמון הוא השאיר בקרבת המנגינה היוונית שעל בסיסה הוא כתב את הפזמון. לבתים הוא כתב לחן מקורי. אודליה, אשתו של אהוד, ליוותה אותו בקולות בהקלטת השיר בסוג של סגירת מעגל.


השיר "מהרי נא" נכלל באלבומו הרביעי: "עוד מעט" שיצא בשנת 1996. ונהיה אולי לשיר הכי מצליח של אהוד בנאי.  השיר שבו הוא סגר מעגל עם עצמו. 

"אני חשבתי שאני כותב על משהו מאוד אישי. לא קלטתי כמה אני קולע לסיטואציה שהרבה אנשים עוברים.זה הרגע הזה שאתה כותב שיר שבא לגמרי מתוך החיים שלך. החיים נכנסים לתוך שיר, והשיר נכנס לתוך חיים של אחרים". ואכן השיר הזה חדר ונכנס נכנס ללבבות של כולנו. הטקסט של אהוד בנאי מלא באהבה וברגישות. המרמור הופך לחמלה, החמצה הופכת לפיוס, ואפילו המוות הופך לחיים כשהוא מחליט לקרוא לבתו על שם אמו המנוחה. 


אהוד בנאי כבר מזמן אינו אותו צעיר אלמוני בן 30, הוא היום מהיוצרים הבולטים והמשפיעים במוסיקה הישראלית. האדם, המשורר, היוצר, הגיטריסט, המלחין, הזמר. האיש והכובע, הרוקר עם הגיטרה, סיפר את סיפור חייו דרך השירים. חוגג יום הולדת 70. קהילת אתם זוכרים את השירים  מברכת אותו בהמון מזל טוב שפע של בריאות יצירה ואהבה. תמשיך לנסוע בדרכים טובות. 

כי הלב שקפא כבר מזמן הפשיר. תודה על המוזיקה והשירים הנפלאים שלך. 

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בהכנת הפוסט נעזרנו בבלוג של אורי הייטנר פינתי השבועית ברדיו ובפודקאסט "שיר אחד" על השיר. הציטוטים של אהוד בנאי הם מתוך הפודקאסט.