sábado, 2 de julho de 2022

Política para a vida

O que teria a ver entre Ervin Lazlo e as lideranças para o bem (me citado por Andrea Labruna, minha amiga de infância e coach pessoal durante toda a minha vida rsrsrs) e o governo de Israel, que acaba de cair fazendo com que em novembro tenhamos a 5a eleição em 3 anos?

Pois é... Uma amiga me enviou uma mensagem de áudio, só ouvida no fim de semana, ampliando a nossa conversa sobre o que chamam de liderança para o bem. Liderança que diz respeito a governos, empresas, relações pessoais e familiares, a todo o mundo... Acredito profundamente no que ela me falou ali e que compartilho um pouco aqui.

Esses dias, meu marido e eu conversávamos sobre a m... que está o mundo... Muito por causa da crise deflagrada pela pandemia e um tanto pela polarização gerada pelas lacrações no jornalismo e mídias sociais (vocábulo me desvendado recentemente por uma amiga jornalista atualizada) - Bolsonaro e Lula; Biden e Trump; a Guerra de Putin na Ucrânia; governos como o de Macron e Bennet que não conseguem governar, já que a oposição lacradora os combatem intensamente. 

Vivo com base na crença intuitiva da liderança para o bem. Uma confiança que carrego de experiências vividas na vida profissional, em família e nos grupos de amizade onde cresci e me desenvolvi, algo que ninguém me tira. Procuro fazer tudo com amor, dedicação, tento me colocar no lugar do outro, recapitulo minha opinião e o modo de enxergar, quantas vezes se fizer necessário, sem medo de mudar, devagar e sempre, em pequenas ações que geram pequenos frutos, num compromisso individual que aos poucos se torna também social, pois se amplia. Como minha amiga fez com sua equipe, contratada pelo Sebrae-MG para "reabrir" a Estrada Real em Minas, capacitando a população local para o turismo, em trabalho pequeno e árduo, nas pequenas comunidades - trabalho realizado a longo prazo, gerando bons frutos, como o turismo que cresceu em Ipoema-MG, por exemplo, com a criação do Museu do Tropeiro e outras iniciativas. Ou o trabalho da nutricionista Claudia Lulkin em Alto Paraíso, com nutrição escolar e familiar, ensinando a utilização e plantio dos frutos do Cerrado. Ou do amigo e músico Júlio Cesar Marques, que trabalha com agricultura familiar natural e sustentável. 

E o que isso tem a ver com a grande política? Creio que pequenas ações, aquelas que somos capazes de realizar no dia a dia, podem influenciar realizões maiores... E aí volto à política, ligando o áudio que minha amiga me enviou à política em Israel... 

Yair Lapid, que ganhou nas últimas eleições, há um ano, o direito de montar o governo como líder do segundo partido mais votado em Israel, o Yesh Atid (Há Futuro) - após o vencedor Benyamim Nathanyau (Likud) não ter conseguido montar governo -, tentou uma coalizão inusitada em Israel, plantando nova semente de esperança ao conseguir misturar no governo várias tendências e partidos bem diferentes... Na linha de buscar atingir uma população mais ampla e mais diversa. Como líder do segundo partido mais votado, Lapid cedeu a liderança para Bennet, de um outro partido, para assim formarem o governo de coalizão que permitiu derrubar a liderança de direita sob o comando de Nathanyau. E, ainda que a tentativa tenha falhado com a queda deste governo, viu-se que governar com diferentes é uma opção viável.

Na coalizão formada pelo último governo havia partidos de esquerda (como o Meretz), de direita (como o Yemin do Bennet), de centro (como Yesh Atid e Kahol Lavan) e árabes (como o Raam). Só que a direita formou um grande bloco na oposição, que não os deixava governar. Com uma coalizão estreita, de 61 deputados contra 59 na oposição (de 120), fez-se compromisso de não votar assuntos polêmicos, apenas governar o país, aprovando o que fosse mais urgente para população de modo geral. Mas a oposição, com o objetivo claro de desfazer a difícil costura, criou uma campanha de levantar pautas e assuntos complexos com o objetivo de quebrar a coalizão, e mostrar a seu público que os de direita na coalizão não queriam tratar assuntos da agenda nacionalista que lhes são caros (referentes à territorialidade), e que por isso seriam traidores de seus próprios ideais e de seus eleitores. Foi este o discurso contra Bennet e era isso que queriam provar ao levantar assuntos polêmicos para a coalizão votar.

Assim, um deputaso do partido do Bennet (Yemin = Direita) e uma deputada árabe (do Meretz - partido mais à esquerda no espectro politico do país) acabaram por dissindir de seus partidos para não ganharem a pecha de traidores de seus eleitores (sejam direitistas ou ou árabes, porções de grande importância no embate político e que se opõem). 

Dessa forma, o governo de espectro politico mais amplo que se formou até então na história do país, caiu, e Bennet, que havia prometido não ir às 5as eleições, levou a pecha de traidor dos ideais de direita e decidiu não concorrer - para descansar das batidas que levou. Nessa queda, Yair Lapid saiu ileso e fortalecido, pois continua sendo a favor de uma coalizão ampla de centro-esquerda e centro-direita para governar o país. Na coalizão que caiu, havia um acordo de rotação entre Bennet e Lapid, que fez com que, com a dissolução do Parlamento (já que não havia mais a maioria de 61 das 120 cadeiras que permite um governo governar), Yair Lapid assumisse nesta semana o cargo de décimo-quarto Primeiro-Ministro de Israel, num Governo de Transição, até que, após as eleições em 1 de novembro, possa assumir um novo governo. 

O problema é que Lapid não tem 61 cadeiras para aprovar projetos no Parlamento / Knesset, nem mesmo o orçamento básico para o exercício de 2023, deixando a economia paralisada para além da crise mundial gerada pela pandemia e pela guerra na Ucrânia. Em Israel, os parlamentares votam de acordo com os interesses do partido (fidelidade partidária) e não do país, cerne do embróglio político em que o país se engendrou. No sistema político atual, todo governo tem que montar uma coalizão de partidos para conseguir a maioria que lhe permite governar. E dessa divisão do governo entre alguns partidos depende o equilíbrio da democracia israelense. Uma faca de dois gumes, pois é também onde se constrói o conhecido toma lá dá cá dos interesses partidários, com divisões de ministérios e cargos, uma práxis para se chegar aos 61+. 

Aparentemente, a direita em Israel tem 61+, mas não consegue se unir, pois grande parte dela é dissidência direta do Likud - aqueles que brigaram definitivamente com Nathanyau,  o qual durante anos combateu no Likud qualquer liderança que a dele se opusesse, como Bennet, Saar, Ayelet Shaked, Liberman, todos de direita queimados por Nathanyahu dentro do Likud e pós-Likud. Assim, voltamos aonde estávamos antes da última eleição há um ano: Nathanyau na liderança do Likud tentando formar uma coalizão só de direita, sem conseguir, pois seus desafetos,  mesmo que de direita, não se sentarão sob governo dele... 

Muito provavelmente, de novo, vai sobrar para Yair Lapid (Yair = luz Lapid = tocha rsrsrs)... Mas, desta vez, suas chances de formar nova coalizão sem Bennet seriam menores (fica Ayelet Shaked, mais à direita que Bennet). Há um outro candidato de centro-esquerda, Beny Gantz (Kahol Lavan / Azul e Branco), ex-general muito respeitado e querido por todos, pelos de direita e de esquerda, mas já teve sua chance no passado, sem sucesso - não mostra a liderança combativa de Nathanyau, Bennet, Liberman, sendo mais ao estilo Lapid, costurador. 

Agora é voltar ao que era antes tendo a mesma receita... mas esperando que, desta vez, possa dar certo... Seria isso possível? 

Tendo mais ao estilo dos costuradores.


Raquel Teles Yehezkel 

Israel, 2/7/2022



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