domingo, 2 de junho de 2024

O Renoir de minha tia

Entre os muitos quadros lindos da casa da minha mãe, escolhi o quadro das Meninas no Campo, de Renoir, como lembrança da casa dela para a minha casa em Israel.

A pintura perfeita é de minha tia Therezinha Couto, cuja coleção especial encontra-se em exposição permanente na Prefeitura de Paracatu, Minas. Mamãe é de família de artistas, muitos pintam, desenham e bordam. Este quadro, minha tia fez para a irmã dela, tia Jacira. Quando tia Jacira se encantou precocemente e os filhos tiveram que fechar a casa dela, eles deram o quadro para a mamãe, ficando sempre no centro da sala e de nossa convivência diária. 

Desde pequena, eu imaginava que aquelas meninas eram eu e minha prima Andréa, já que o quadro era da casa dela. É uma pintura incrível, pois, apesar de ser uma cena no campo, os tons que predominam são de azul, até mesmo na árvore, e isso dá um toque menos realístico e mais artístico. O quadro se encaixou perfeitamente na minha casa, como se sempre estivesse ali... Mas a história mais fantástica e que vou contar, é outra... 

Meu irmão foi comigo ao apartamento da mamãe, que ainda se mantinha fechado, para eu escolher o que quisesse levar para mim... Escolhi este quadro. De lá fomos, meu irmão e eu, levá-lo para um antigo moldurista da rua Montevideo esquina com Grão Mogol para desemoldurar e embalar em tubo rígido para viagem. 

No embarque de volta a Israel, havia também livros que estavam na mamãe e outras bugigangas, muita coisa para transportar, e optamos, Alon e eu - meu caçula que viajava comigo - por carregar o tubo do quadro na mão. E assim, o quadro voou de Belo Horizonte para São Paulo, Paris e chegou bem em Tel Aviv. 

Meu marido nos buscou no aeroporto e chegamos em casa com aquela montoeira de bagagem. No dia seguinte, ao desmontar as malas, percebi que o tubo não estava em casa. Não me preocupei, pois me lembrava de, no carro, ter pedido ao Alon para colocá-lo na frente e não no bagageiro. Pensei, amanhã eu busco... Era fim de semana e não saímos de casa. No terceiro dia, desci para buscá-lo, mas o tubo não estava no carro...  

Comecei a duvidar de mim mesma, será que havia ficado no avião? Perguntei ao Alon, ele confirmou que estava no carro. Nova busca e nada. Já havia se passado uns quatro dias... Achei que o havia perdido no aeroporto, talvez, ao carregar a bagagem no carro, tivesse caído... Eu estava muito chateada, repassando os passos para entender como o havia perdido, já que Alon e eu viemos namorando o quadro pelo caminho, com todo o cuidado possível... Era algo caro para nós.

Estava inconformada, inconsolável com a perda daquela preciosa herança... Então, na manhã seguinte, indo para o trabalho, e descendo com o lixo subdivido em partes recicláveis, mais a bolsa..., na hora de jogar o lixo seco (ainda bem que era o seco 🙏), a chave do carro caiu dentro da lixeira e foi bater bem lá no fundo! A lixeira do prédio é alta, chega quase ao meu peito, teria que deitá-la no chão e começar a tirar as tralhas de cima para tentar chegar à chave, ao fundo. A lixeira estava cheia, tinha que retirar primeiro o que estava por cima... 

No que tirei as primeiras tralhas, apareceu mais embaixo o meu tubo ainda lacrado, intacto! Ao descer a bagagem na garagem, deve ter caído e rolado para próximo à lixeira, e algum vizinho jogou-o no lixo! Imagina!...

Se não fosse um objeto pequeno como uma chave, que escorregasse até bem embaixo, eu não precisaria ter tirado tudo e não teria chegado ao tubo... Só mesmo a chave me faria virar o lixo! Como disse meu filho, foi "hashgahá pratit", como se diz em hebraico; em português, "a providência Divina"! Como se Deus intervisse ali em ação individual para que o quadro chegasse ao seu destino! 🙏

Falei para as minhas netinhas Mischa e Sara que são elas as meninas no quadro... Agora é fazer uma foto das duas em piquenique no campo - e ver a vida imitar a arte...

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Raquel Teles Yehezkel 

Israel 2 de junho 2024

As meninas no campo, de Renoir, por Therezinha Couto, óleo sobre tela, 90x70

A pintora Therezinha Couto, de família de Bom Despacho e Luz, 
casou-se em Patos de Minas com José Corrêa Loureiro 

O quadro em Israel - no tempo das minhas netas crianças, em 2024

O quadro na mamãe com a minha família reunida - no tempo dos meus filhos crianças: meus pais (Maria e Emídio Teles), meus sogros (Nadra e Meir Yehezkel) e os filhos Elias, Ariel e Alon em 1999

Parte da nossa família reunida na casa da tia Jacira e tio Manoel Bernardes, com o quadro ao fundo, em 1968 - no meu tempo e dos meus primos crianças. 





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