quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Emídio Teles de Caravalho - Meu pai

"Nasci em mil novecentos e onze,
Nos tempos que antecederam a Grande Guerra,
Em agosto, justamente dia quatorze,
Ocasião da Festa do Rosário: linda era!"

14 de agosto, aniversário do meu pai, dia de Nossa Senhora do Rosário em nossa terra natal. Meu pai era um homem carismático, cheio de personalidade, impossível não notá-lo, original, impulsivo, divertido, generoso, prezava a honestidade acima de tudo; e a liberdade também. Quando chegava em casa da fazenda, era a alegria da meninada. Coração-menino, por onde passava, semeava amor e muita alegria.

Gostava de poesias, escrevia, recitava e nos ensinava a declamar de cor. À frente de seu tempo, estudou o segundo grau no Colégio Arnaldo em Belo Horizonte e Zootecnia e Agronomia na Universidade  de Viçosa. Passava longos períodos isolado nas fazendas, e aprendeu a cozinhar a comida simples da roça como ninguém. Amava Deus e a natureza, era cheio de vida e de energia, ciumento e mandão. Tinha que ser do jeito dele. E todos nós, em todas as idades, o obedecíamos. Amoroso e brincalhão, rolava com a gente pelo chão. Diferente dos padrões da época, não batia nos filhos e se zangava quando mamãe o fazia. Dizia que filho jamais se esquece do peso da mão de um pai. Mas o fez algumas raras vezes, quando presenciava uma briga entre irmãos. E nós, acostumados a seu jeito menino, arregalavámos olhos e ouvidos para gravar nos corações a célebre frase quase incompreensível à época: "irmão não briga!"; pois nada nos parecia mais natural que irmão se pegar com irmão - rsrsrs.

Minha irmã Olímpia escreveu sobre ele: "Nas Dores do Indaiá, das noites frias, no aconchego do fogão, pés imersos em água quente, contava histórias pra gente: pegava onça pelo rabo e assustava assombração.
E aqueles campeonatos... Numa corda, de um lado a filharada e, de lambuja, a mãe; do outro lado ele, com um braço só, nos derrubava ao chão.
E para seus filhos deixava em cada caso uma lição: "quem não zela não tem", "o mundo é dos ativos", "o homem trabalha é com a cabeça", "irmão não briga". Todo filho tem gravado e não esquece disso, não!
Mas por onde ele passou e por onde ele viveu, a sua marca ficou: "compre fiado e pague antes do vencimento" (num tempo em que tudo se anotava em cadernetas), "o nome é o seu maior bem!".

Papai viveu quase 99 anos, e, sempre brincalhão, faleceu em 1 de abril de 2010. Emídio Telles de Carvalho.

Texto de Raquel Teles Yehezkel







Emidio Teles, à esquerda, e seus amigos e contemporâneos de Does do Indaiá 



sábado, 10 de agosto de 2019

Simpatia pelos Judeus Ortodoxos

Um povo é formado por pessoas que se identificam como tal por terem em comum língua, costumes, tradições, festas, textos, canções, brincadeiras, códigos de comportamento – escritos ou não, história, e que, durante sua vida, transmitem a cultura absorvida para os que estão à sua volta e para a geração seguinte, de forma consciente ou não. Nesse sentido, pode-se considerar os judeus como um povo, pois, mesmo distantes territorialmente mantêm um patrimônio cultural comum. O mesmo pode-se dizer para aqueles que crescem e se desenvolvem em Israel, onde a cultura judaica pode ser transmitida de forma organizada e intencional, através de políticas públicas ou privadas, conforme o interesse de grupos maiores ou menores.

Sendo a cultura algo amplo, mutável e nem sempre passível de contabilização, pode-se dizer que há judeus como há seres humanos: de todos os tipos, matizes, bons e maus, de todas as cores e níveis intelectuais, religiosos ou laicos, mas, que de uma forma ou outra, se identificam por um esteio cultural comum.

Entre diferentes grupos que espelham a diversidade do judaísmo, escolhi refletir sobre os judeus religiosos, conhecidos também por ortodoxos. Aqueles de longas barbas, com ou sem peiot / cachos sobre as orelhas; que usam kipá / solidéu, chapéu e vestem preto, com tsitsit / franjas aparecendo sob a camisa branca; andam de olhos baixos, por medo ou respeito, para não encontrar outro par de olhos, portas da alma, e invadir território alheio; e cujas mulheres usam vestidos joelho abaixo, mangas três-quartos e cobrem o cabelo com lenço, chapéu ou peruca, seja sob o sol ardente de Israel ou a neve de New York; andam em família, empencados de crianças pelas ruas, pois filhos são bênçãos de Deus, e por isso não fazem controle de natalidade. Na maioria das vezes, são vistos de forma estereotipada pela ótica da cultura moderna e globalizada. Ainda assim, tenho atração, admiração e respeito por esse grupo. Até mesmo certa inveja por não ter nascido como eles, certo sentimento de nostalgia por algo que não vivi, lembrando sua simplicidade, valores e riqueza cultural desde a vida de outrora. Talvez fosse mais simples viver assim, sem muitos questionamentos, dentro de limites bem conhecidos e estruturados em costumes e tradições que se provaram suficientemente fortes para se perpetuarem através de séculos e gerações.

Quando olho para um judeu religioso, vejo nele a pessoa que reza três vezes ao dia (Shaharit / Manhã, Minchá / Tarde e Arvit / Noite). Nas orações da manhã e da noite são repetidas o "Shemá Israel", principal oração do judaísmo, um pacto que fala sobre o amor a Deus, a obrigação de transmitir seus ensinamentos aos descendentes e de preservar alguns costumes para lembrar a existência de Deus, como usar tsitsit e colocar mezuzá / marcador nos portais das casas para que Deus as protejam, como fez no Egito. Viu-se que quando os judeus que se encontravam isolados ou perseguidos na Diáspora - como foram os judeus da Etiópia e dos criptojudeus portugueses da região de Belmonte, remanescentes dos que passaram pela Inquisição - e seus descendentes já haviam se esquecido de quase todas as orações e costumes, ainda recitavam o Shemá Israel, Adonai Eloheinu, Adonai Echad / Escuta Israel, o Senhor é nosso Deus, o Senhor é único - primeiro verso do Shemá. Vejo esse religioso ao acordar e ao dormir, colocar a mão sobre os olhos do filho pequenino ao recitar o primeiro verso do Shemá. Vejo-o recitar a longa Birkat ha-Lechem / Benção do Pão, toda vez que come pão, por ser este o alimento que simboliza a vida. Vejo-o, na bênção da manhã, agradecer por mais um dia de vida ao abrir os olhos; afirmar sua fé no Criador do Universo; pedir proteção para seu povo e para si mesmo; para protegê-lo de más tentações, de línguas maldosas, de pessoas más, de calúnias, de traições e para aproximá-lo das pessoas boas e dos ensinamentos da Torá. Toda manhã, essa bênção lembra-o de que há atitudes das quais se colhem os frutos ainda nessa vida e guarda-se créditos para a vida vindoura, e descreve-as: honrar pai e mãe, fazer caridade, abrigar visitantes, fazer as orações do dia, visitar doentes, ajudar a realizar casamentos, acalentar enlutados, concentrar-se nas orações, fazer as pazes entre amigos e casais que tenham se desentendido e estudar a Torá. Vejo-o fazer 100 bênçãos ao dia, entre elas, as de abençoar a água ou qualquer bebida e alimento antes de levá-lo à boca. Vejo-o lendo e se dedicando ao estudo da Torá, se dedicando a compreender e a praticar os ensinamentos contidos na Parashat haShavua / Porção da Semana, quando lê a porção semanal da Torá, até completar sua leitura completa no ciclo de um ano, de Simchat Torá / Alegria da Torá, logo após o Ano Novo judaico, até Simchat Torá seguinte. Vejo-o seguindo as regras da alimentação judaica kosher / casher, cuja a prescrição central gira em torno de não misturar leite e carne numa mesma refeição, seguindo um preceito da Bíblia que diz que não há de se comer a carne de uma novilha no leite de sua própria mãe. Ou não comer carnes de animais que não tenham as patas fendadas ou não sejam ruminante, e nem peixes que não tenham escamas e nadadeiras - daí a restrição de comer alguns tipos de carnes e frutos do mar. Também há que se doar para a caridade o dízimo de seu rendimento. Em Israel somente, um alimento também pode se tornar não-casher se uma pequena parte da produção não foi dispensada ou deixada no campo para a colheita dos pobres, ou se não foram seguidas uma série de normas descritas na Torá, como, entre outras, deixar o campo descansar a cada sete anos. Vejo-o também nas velas de Haguim / Festas judaicas e Shabat, às sextas ao cair do sol, no Kidush / Bênçao à família e ao Sábado como um dia de descanso consagrado a Deus, na consagração do vinho e do pão / halá, um pão trançado, à mesa do Shabat. Nada das tecnologias desenvolvidas pelo homem são permitidas, portanto, não se dirige carros; não se ligam e desligam luzes - as luzes das salas e banheiros permanecem acesas e dos quartos apagadas; não se fala ao telefone; não se ouve música; não se escreve. Também, não se acende fogo – cozinha-se antes do por do sol, deixando a comida em calor brando, numa chapa elétrica ligada antes da entrada do Shabat e desligada só após o por do sol seguinte. E, no fim do Sábado, faz-se uma bênção que divide o sagrado do mundano, o Shabat dos outros dias da semana. Nada em seu dia deve ser em vão, por isso, quando se reúnem em momentos de alegria, para festejar um aniversário, um casamento, ou em momentos tristes, para prantear ou lembrar a morte de alguém, vão sempre fazer uma pausa para dizer Dvrei Torá / Ditos da Bíblia, ou seja, do âmbito do divino, e não ficar apenas no mundano. Seguindo as mitzvot / os preceitos, os religiosos acreditam que estão sendo pessoas melhores, mais justas, mais próximas dos desígnios de Deus, consagrando-se ao serviço divino. Com tanto esforço, como não gostar deles então?

Diferente de outras culturas, o judaísmo tem a peculiaridade de ser transmitido pela linhagem materna. Conforme a Halachá, código de leis baseadas na Torá, é judeu quem se converteu ou quem nasce de mãe judia, seguindo ou não as prescrições. A análise da descendência pela linhagem materna é no mínimo curiosa. Primeiro pela razão de que um pai pode disseminar sua semente mundo afora, sem estar semeando o judaísmo, o que sugere uma liberdade maior ao homem. Mas, numa segunda reflexão, essa tradição já não se parece tão machista quando se pensa que a paternidade não é o mais relevante para o judaísmo. No caso dos judeus, cujas comunidades sofreram inúmeras perseguições e humilhações, filhos de mulheres violentadas ou utilizadas à revelia como mercadoria sexual - como o caso das Polacas no Cone Sul, por exemplo -, o judaísmo permaneceu garantido à sua descendência.

Laicos, a grande maioria dos judeus não vive conforme as prescrições, e muitos nem se interessam por elas, as desconhecem ou até as rejeitam. Mas, ainda assim, de uma forma ou outra, seguem, uns mais outros menos, as tradições principais, como a brit-milá / circuncisão, o bar-mitzva / maioridade religiosa, a hupá / casamento judaico, cumprem o luto, comemoram as festas judaicas, acendem velas e fazem a refeição do Shabat, vão à sinagoga em ocasiões especiais e jejuam, ainda que parcialmente, em Yom Kipur / Dia do Perdão.

A exigência quanto a observância aos preceitos da Halachá – cuja rigidez se justifica pelo argumento de que não há mudanças no texto da Torá, tendo sido reproduzido letra por letra desde os tempos de Moisés, e que, portanto, não há como flexibilizar a Halachá - pode causar uma lista de dificuldades e empecilhos a quem queira se converter ao judaísmo pelo caminho tradicional. Dessa forma, há milhares de pessoas no mundo ou em Israel – filhos de casamentos mistos, de refugiados e de turistas que se identificam com esse povo – que encontram barreiras e dificuldades à sua conversão, sejam de cunho religioso ou político. No âmbito político, sendo Israel estrategicamente um Estado judaico, todo judeu no mundo tem direito à sua cidadania, portanto, o país não tem interesse em abrir suas fronteiras a quem assim o decida, e, por isso, controla o sistema de conversões ao judaísmo através do Rabinato, órgão institucional ligado ao Estado, que tem poderes para realizar e autorizar conversões. No âmbito religioso, os ortodoxos afirmam que, para se fazer parte um povo, como qualquer outro, deve-se aceitar as leis que o regem; no caso dos judeus, a Halachá. Ainda que tenham a consciência de que ninguém consegue cumprir todas as leis, pois ninguém é perfeito, nem o mais justo dos justos, a priori, não se pode escolher quais leis se quer cumprir e quais não. Por isso, muitas vezes, os convertidos são mais fervorosos no cumprimento dos preceitos que os nascidos no judaísmo; eles se reconhecem judeus pelo cumprimento das tradições, enquanto os nascidos de mãe judia ou crescidos em lar judaico têm a segurança de ser judeu, cumprindo ou não a Halachá.

Atualmente, os judeus têm um país onde podem professar sua fé e cultura em toda sua diversidade, dentro de uma democracia liberal, mas na História antiga e recente nem sempre foi assim. Nessa linha de pensamento, seria possível enxergar a população judaica religiosa como a principal guardiã dessa cultura. Até mesmo como os guardiões da Torá de Moisés, ou seja, da palavra divina. Se por alguma obra do homem ou do destino, acontecer algo no mundo que leve o homem a esquecer ou a perder todos códigos morais e éticos, os judeus guardariam de alguma forma, mesmo que de cor, todas as palavras da Torá, ipsis literis, tal como acreditam que lhes foi entregue por Moisés no Monte Sinai, como fizeram e fazem há milhares de anos, existindo, inclusive, técnicas para isso.

Tendo sido criada no Brasil, um país que gosta de se pensar liberal, quando ainda continua no âmbito de colônia cultural formada por uma sociedade patriarcal de classes - com uma aristocracia e população pobre ainda com mentalidade escravocrata do "sim, senhor e não, senhor" -, sempre me surpreendeu a segurança do judeu, de modo geral, mesmo quando perseguido por tiranos, de quem crê que ninguém é mais que ninguém e, portanto, não se curvando a não ser frente a Deus. E assim, seguiram no tempo com suas tradições, em silêncio, em shtltes, em guetos, em pequenas comunidades e sinagogas espalhadas pelo mundo, não se curvando nem para reis, nem presidentes, patrões ou pressões sociais. Seguindo as leis locais, mas mantendo em suas comunidades um código próprio de costumes, baseado na Torá. E esse código que descreve rituais, tradições e condutas os manteve como povo durante séculos.

Amar o próximo, aquele se assemelha a nós, é sempre mais fácil. Difícil é o exercício de viver com respeito ao diferente, ao que nos é estranho. Num mundo moderno e digitalizado como o atual, que tende a homogeneização, talvez seja mesmo difícil compreender os que optaram por uma vida regida por costumes tão antigos, que desejam seguir como sempre seguiram, fazendo suas orações, festividades e tradições, como seus antepassados.

Texto de Raquel Teles Yehezkel
10/8/2019





quarta-feira, 24 de julho de 2019

As casinhas da rua Congonhas

Acordei em Israel com imagens de demolição das antigas casinhas da rua Congonhas, vizinhas ao Clube Makenzie, no bairro Santo Antônio, em Belo Horizonte. Numa delas viveu o grande escritor João Guimarães Rosa, vindo com a família de Cordisburgo para estudar na capital. Como pode ser? Local onde na adolescência moravam amigos, onde ficava o memorável Bar do Lulu, que reunia a rapaziada da época, e onde Helvécio Ratton filmou o Menino Maluquinho, de Ziraldo.

Por ali, na Santo Antônio do Monte e depois na São Domingos do Prata morava a vovó Malvina Saliba, avó emprestada de minha maior amiga Andréa L. Cunha, que nos servia houmus com pita feitos por ela, vinda do Líbano; morava também, na Alfredo Albuquerque, nossa amiga comum Beatriz Siqueira. Juntas, após comer pão de queijo assado na hora pela dona Arlete, na Viçosa, nos perdíamos pelas voltas dessas ruas em conversas fiadas, num caminho sem fim. Nessa mesma região, moravam a Devana, na Viçosa, a Dorinha Gouthier e a Cláudia Fenelon na Bahia e Carangola, minhas colegas no Estadual Central. Havia também a dona Irani, meus conterrâneos de Dores do Indaiá e netos da dona Amélia - na Benvinda de Carvalho. Por ali transitou a minha geração tantas vezes, entre o Mackenzie, o Padre Machado, tendo o Dom Silvério de um lado, o Coleginho e a Fafich do outro, o Estadual Central, o Minas e a Savassi - coração pulsante, mais abaixo, tudo à pé, via Carangola, Leopoldina e Viçosa, remetendo sempre, essas casinhas singelas, ao tempo de crianças brincando nas ruas e de cadeiras na calçada.

Crianças e adolescentes já não vão mais à escola nem visitam as casas dos colegas à pé, desconhecendo o território que habitam. O estilo de vida na cidade mudou completamente e continua mudando. Manter casas antigas, em região tão valorizada, muitas vezes é inviável para os proprietários. A prefeitura deveria ter assumido, há muitos anos antes, o projeto e a responsabilidade da revitalização desse conjunto arquitetônico charmoso e mágico. A construtora Canopus, que constrói prédios milionários, responsável pelo novo empreendimento, poderia pelo menos manter parte da casa onde viveu Rosa, na esquina de Congonhas com Leopoldina, no antigo Bar do Lulu, como memória do autor e da cidade, desse modo de vida que se extingue rapidamente por todos os bairros periféricos à avenida do Contorno. Poderia oferecer um presente à nossa cidade...

Texto de Raquel Teles Yehezkel




Em 25.7.2019, a Prefeitura de BH e a construtora Canopus anunciaram que as casas não serão demolidas, mas restauradas e preservadas em projeto de moradia. Aguardemos.

Fonte - Site Mais Minas. Acessado em 24/7/2019
https://maisminas.org/casa-onde-viveu-guimaraes-rosa-e-demolida-em-belo-horizonte/

Acessado em 27.7.2010:
https://blogs.oglobo.globo.com/afonso-borges/post/casa-onde-morou-guimaraes-rosa-em-bh-e-demolida-no-dia-do-escritor.html

Acessado em 27.7.2019:
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2019/07/26/interna_gerais,1072518/conheca-projeto-que-deve-devolver-a-bh-casa-de-guimaraes-rosa.shtml?utm_source=whatsapp&utm_medium=social


quarta-feira, 10 de julho de 2019

As Polacas e Jacob do Bandolim

A foto de um cemitério israelita restaurado em junho de 2019 em Cubatão, Santos - lugar onde aportavam "as polacas" que chegavam ao Brasil cheias de esperança, chamou minha atenção.

"As polacas", foi como ficaram conhecidas as moças judias enviadas para o Brasil, Argentina, Uruguai, com promessas de vida melhor e de casamento na América - termo usado intencionalmente de forma genérica para enganar os incautos. Os traficantes de vidas humanas, que conduziam essa jovens a uma nova vida, tomavam seus passaportes ao aportar no Brasil e as forçavam a trabalhar de prostitutas para pagar as despesas de viagem.

Assim, moças pobres, de aldeias remotas do Leste europeu, que não falavam sequer uma palavra do idioma local, entravam em um círculo de marginalidade social que no início do século XX não as permitia integração. Dessa forma, tornaram-se marginalizadas na sociedade local e na comunidade judaica.

Apesar das adversidades sofridas, souberam se organizar para se proteger; comemoravam as festas judaicas, tinham suas próprias sinagogas, ajudavam uma à outra na criação dos filhos que daí nasceram, e compraram para si terrenos para serem sepultadas conforme os rituais judaicos, já que não lhes era permitido serem enterradas nos cemitérios israelitas da época.

Nos últimos anos, a história das polacas vem sendo resgatada por seus familiares e estudiosos, passando a ser inserida no contexto do tráfico humano e das fugas à perseguição sofrida pelos judeus na Europa Oriental. Essas moças eram de várias partes da Europa Oriental, mas principalmente da Polônia, oriundas de aldeias / shtetls muito pobres, entregues pelas próprias famílias ao shadhan, especialista em arranjar casamentos, na esperança de um bom arranjo e de um futuro mais promissor na América. Assim se generalizou de modo pejorativo o termo "as polacas" para as prostitutas judias no Brasil e no Cone Sul.

Ao fazer referência a elas, não podemos deixar de citar a incrível história de Jacob do Bandolim, considerado um dos maiores compositores de chorinho, narrada de forma emocionante por Nelson Menda em artigo de leitura imperdível, "O Judeu do Bandolim", na Revista do Choro. Jacob do Bandolim era judeu, filho de mãe Polaca e de pai brasileiro. Cresceu no baixo meretrício, no bairro boêmio da Lapa. Se converteu ao catolicismo para se casar na igreja com Otília, uma jovem da classe média de Copacabana. Era pai de Elena e do músico Sérgio Bittencourt, que compôs em sua homenagem "Naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele tá doendo em mim..."

Essas histórias estão amplamente documentadas em cartas que as moças enviavam às suas famílias na Europa, escondendo parte da realidade que viviam; em inquéritos contra a organização criminosa de Zvi Migdal, que as trazia da Europa com esquemas enganosos; e também na literatura brasileira, como em "O ciclo das águas", de Moacyr Scliar e em "Traduzindo Hannah", de Ronaldo Wrobel.

Foto de Rogério Soares / Jornal A Tribuna de Santos


Outras referências:

https://revistadochoro.com/artigos/o-judeu-jacob-do-bandolim/

https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2019/06/30/cemiterio-israelita-e-reaberto-ao-publico-em-cubatao.ghtml 

Kushnir, Beatriz. "Bailes de máscaras: mulheres judias e prostituição- As Polacas e suas associações de ajuda mútua. Rio de Janeiro: Imago, 1996. 

Largman, Esther Regina. Jovens Polacas. Rio de Janeiro: Record, 1992. 

Filme: Jovens Polacas, de Alex Levy-Heller, baseado no livro de Esther Regina Largman.  

https://revistadochoro.com/artigos/o-judeu-jacob-do-bandolim/

quinta-feira, 4 de julho de 2019

A falta do que não vivi... - no shteitel de Malamud

Estranho que possamos sentir falta do que não vivemos...

Seguimos novos caminhos, deixando para trás a casa de nossos pais, como se faz desde o tempo de Avraham... E, através das palavras de Malamud, vejo Iákov deixar sua casa sem olhar para trás. Volto num tempo nunca vivido e visito um shteitel, em algum lugar remoto, perto de Kiev, ainda antes da Revolução Russa de 1917. Enxergo, então, como se perderam no tempo essas comunidades, e com elas um modo de vida que se extinguiu por completo em toda a Europa Oriental. Delas quase nada restaram - apenas alguns cemitérios e lápides...

Distantes no tempo, ficam para nós como um sonho, uma névoa - um modo de vida só revelado em fragmentos, como esses que cito a seguir, descritos tão bem por Bernad Malamud no livro "O Faz-tudo". Também o fez Bahsevis Singer em outros. Permanecem, ainda, em lindas e nostálgicas pinturas como em Marc Chagall, em registros literários, em uns poucos flashes de filmes, em memórias passadas de pais para filhos. Um modo de viver devastado pelo preconceito, pela inveja, pela maldade humana, varrido do mapa na II Guerra. Não há exercício racional que se faça entender. Não há capará, não há mechilá para a vida dos que se foram...

E assim, seguimos a vida, tentando sempre criar novos shteitels...

Trechos de "O Faz-tudo":

"- O que há no mundo lá fora - disse Shmuel -, há também no shteitel - há apenas gente com seus problemas, suas aflições, suas circunstâncias. Mas aqui, pelo menos, Deus está conosco.
- Ele está conosco até a hora em que os cossacos chegarem galopando. Nessa hora ele já estará em outro lugar." (...)
"- Você ficou diferente de um ano para cá, Iákov. Que desejos tão importantes são esses?"
(Perguntou o sogro, Shmuel, ao genro Iákov - um trabalhador faz-tudo, recentemente abandonado pela esposa infértil, que fugira com um outro.)
"- São desejos que não dormem nem me deixam dormir para lhes fazer companhia. Eu já lhe falei dos meus desejos: um estômago cheio de vez em quando. Um trabalho que me pague me rublos e não com pratos de macarrão. Até mesmo um pouco de instrução, se possível, e não estou falando dessas aulas de Torá que dão aos trabalhadores tarde da noite. Já tive minha cota dessas aulas. O que quero saber é o que está acontecendo no mundo.
- Está tudo na Torá e não se termina nunca de estudá-la. Fique longe dos maus livros, Iákov, dos livros impuros.
- Não existem livros maus. Mau é ter medo deles." (...)
- Iákov, se você quer mesmo ir para terras estrangeiras, apesar dos turcos, por que você não vai para a Palestina, onde os judeus podem ver árvores e montanhas judaicas respirar o ar judaico?" (...)
"- Agora vou tentar Kiev. Se puder levar uma vida decente por lá, é o que farei. Se não, farei sacrifícios, economizarei o que puder e parto para Amsterdã, onde pegarei um navio para a América. Em resumo, o que possuo é pouco, mas tenho planos."
(...) "O faz-tudo não olhou para trás. A carroça foi seguindo por uma estradinha cheia de curvas entre campos arados de terra escura (...)  Mais lentamente, a carroça subiu a estradinha de pedras do cemitério com seus salgueiros amarelados entre os túmulos. Passaram por uma colina onde os túmulos eram assinalados por lápides baixas. Era lá que os pais de Iákov, um homem e uma mulher de pouco mais de vinte anos, estavam enterrados. (...) O passado era uma ferida aberta." (...)
"Um shnorrer em andrajos gritou para o faz-tudo de junto de uma lápide prestes a cair.
- Ei, Iákov, hoje é sexta-feira. Que tal uma moeda de dois copeques para que seu sábado seja abençoado? A caridade salva a morte.
- A morte é a última das minhas preocupações." (...)
"Deixaram para trás a colina do cemitério descendo por uma estradinha tortuosa. (...) atravessou a ponte de madeira que levava à parte mais populosa da cidadezinha. Passaram pelo casebre de Shmuel, mas nenhum dos dois olhou em sua direção. Uma casa de banhos de paredes escurecidas e janelas fechadas por tábuas ficava junto a um riacho e o faz-tudo foi acometido de um súbito  desejo de um banho. (...) Água e sabão são coisas abençoadas por Deus, costumava dizer Raizl. Dentro de poucas horas a casa de banhos, soltando vapor pelas fendas, estaria apinhada de judeus a se lavarem para a noite de sexta-feira.
Seguiram sacolejantes por uma rua esburacada e poeirenta com casinhas de teto de palha de um lado e, do outro, um campo aberto onde o mato crescia. Uma judia usando uma grande peruca, sentada no degrau à frente de sua casa, depenava uma galinha de pescoço ensanguentado que prendia entre os joelhos (...). Uma poça de sangue na vala da rua era testemuna do ritual com que fora morta a galinha. (...) As portas de algumas das casas soltavam-se dos alisares e, onde havia degraus, estes estavam quebrados. As cercas estavam arrebentadas, algumas prestes a cair, mas ninguém parecia se importar com toda aquela decadência que deixava irritado o homem que consertava as coisas e gostava de vê-las em ordem e funcionando.
Naquela noite, velas brancas seriam acesas em todas as janelas, menos na sua.
O cavalo seguiu em ziguezague em direção ao mercado, e a qualidade das casas por onde passavam foi melhorando. Algumas eram grandes e bonitas e seus jardins ainda tinham flores de verão.
- Que esses ricos nojentos fiquem por aí com suas casas - murmurou o faz-tudo.
Shmuel não fez comentários. Sua mente, como ele já disse várias vezes, havia esgotado aquele assunto. Ele não invejava os ricos e queria apenas compartilhar um pouquinho da riqueza deles - o suficiente para manter-se vivo, dinheiro ganho com seu trabalho.
O mercado, uma praça aberta com prédios de madeira em dois de seus lados, alguns com lojas no segundo pavimento, estava repleto de camponeses com suas carroçaa cheias de grãos, verduras, madeira, couro e sabe-se lá o que mais. Ao redor das barracas e das lojas, uma freguesia constituída principalmente de mulheres fazia as compras para o sábado. Embora o mercado fosse o lugar onde se costumava ficar à procura de trabalho, o faz-tudo não acenou para pessoa alguma e ninguém acenou para ele.
Parto daqui sem saudades, pensou. Já deveria ter partido há anos."

In: MALAMUD, Bernard. O faz-tudo. Rio de Janeiro: Editora Record. 2006. p.25-30.

 Marc Chagall

O Faz-Tudo, Bernard Malamud




terça-feira, 2 de julho de 2019

Milton Nascimento e Clube da Esquina em Tel Aviv

E a lenda subiu ao palco
andando devagarzinho, em passos miudinhos.
Como peroba rosa que envelhece forte,
como um bom vinho que encorpa com o tempo,
Milton Nascimento tomou conta do palco e comandou o show.

Plateia como essa não se via por aqui há muitos anos.
Misturava-se à surpresa daqueles que não conheciam muito dessa música,
a saudade de um tempo prestes a seu fim
canções que marcaram gerações como a minha,
à realidade que aquele compositor-gigante,
agora comovente-senhorzinho com coração de criança vivaz,
enfrentara longa vida, muitas perdas, muita estrada,
problemas de saúde, para estar aqui e agora.
E eis que ali estava, sem medo, frente à plateia
(de óculos escuros - tímido e discreto),
emocionado, delicado, perfeito,
acompanhado por uma banda de primeira linha,
que lhe dava suporte e cobria pequenas falhas,
o que tornava as emoções únicas e mais verdadeiras.

Entre declarações de amor gritadas ao ar pelas fãs,
entre um bis e outro bis,
artista, músicos e plateia
se apresentavam, se amavam, se emocionavam,
pois "sonhos não envelhecem" –
reforçou o autor da célebre
Canção que na América se ouvia.
Dedicou música à mãe,
àqueles que o receberam no aeroporto,
se dirigiu a plateia várias vezes.
Ninguém queria ir embora, ou deixá-lo ir...
Privilégio vivenciar essa noite,
compartilhando momentos tão especiais com amigos.

Noite de astral irrepetível,
memorável
para quem esteve nesse 30 de junho de 2019
no Eichal Hatarbut de Tel Aviv.

Foi assim... 
Parabéns para o Daniel Ring e o Andre Golovaty que produziram o show!

"Num domingo qualquer, qualquer hora,
Qualquer dia a gente se vê.
Sei que nada será como antes, amanhã...
Que notícias me dão dos amigos,
Que notícias me dão de você...
Alvoroço em meu coração,
Amanhã e depois de amanhã,
Resistindo na boca da noite um gosto 'do show'..."

Até uma outra, amigo, conterrâneo, com quem dividi lugares e amigos comuns - e grande parte desse meu viver...

Raquel Teles Yehezkel
Texto publicado no Facebook em 1.7.2019
As duas primeiras fotos são de Alon Yehezkel. As outras são de Tamar Matsafi, com exceção da foto dos produtores (Daniel e André), de propriedade da Octopulse.









domingo, 3 de março de 2019

Tributo a Andréa Fernandes Menezes de Queiroz

Fim de agosto de 2018 foi a última vez que encontrei minha amiga Andréa. Eu não sabia que estava me despedindo dela naqueles momentos mágicos, de muito amor e alegrias que vivemos juntas. De lua cheia, fogueira, churrasco na lagoa, banhos de córrego, passeio nas veredas. Ontem, 1 de março, ela foi levada à sua morada eterna. Estando longe, esta é minha maneira de me despedir dela e de viver o meu luto.

Em agosto, quanto fui ao Brasil levando um grupo de Israel, foi a última vez que nos encontramos, e foi na fazenda Riacho do Campo, em Brasilândia de Minas. Ela veio com o Carlinhos e fizeram questão de dormir aí, para terem mais tempo comigo e com a Mônica, e em consideração aos visitantes israelenses que nos acompanhavam.

Imaginem que era fim de agosto, não era feriado e nem fim de semana. Muitos foram à fazenda naquela ocasião só para nos prestigiar e ajudar a receber com alegria o grupo que eu levava para conhecer uma parte do sertão mineiro de Guimarães Rosa e do meu avô. Foi o caso da Mônica e da Consuelo minha prima, que se juntaram ao grupo desde Brasília e Chapada dos Veadeiros; da Andréa e do Carlinhos (imaginem o Carlinhos dormindo fora da casa dele no meio da semana, sendo que moram na fazenda ao lado); do tio Vavá (que veio de Brasilia, cidade da qual foi arquiteto e paisagista); do tio Tato com Fabinho meu primo; da Miriam minha prima com o marido Paulo, que fez maravilhosas caipirinhas de frutas que trouxe especialmente para nós; da Andréa e Caio, primos que vieram de Uberlândia (e ela fez uma deliciosa torta de morango pra nos recepcionar); do Eduardo, Dedê e Rodrigo meus primos, irmãos da Consuelo; do Pivete e da Adriana, que estavam a caminho de Itacaré BA, onde abririam o restaurante Lua Cheia e pararam na fazenda para nos encontrar; do Marquinhos meu primo de Patos, que mesmo não vindo, mandou, na fazenda dele, o Zezinho abrir do nada uma trilha de 5 km de estrada beirando a Vereda da Égua, citada por G. Rosa, só para nós passarmos pertinho dela; do Bel meu irmão, que fez uma fogueira para vermos o por do sol e o nascer da lua ao lado do fogo; encomendou um churrasco ao entardecer na lagoa ao som da música do maestro israelense. Andréa chegou toda feliz, trazendo champanhe para beber o quanto quiséssemos, à luz da lua, das estrelas, da fogueira, da cantoria. Tudo organizado pelo Wesley e pela Liliane, que administram a fazenda com muito carinho.

A Andréa e o Carlinhos passaram a frequentar a fazenda na Festa da Família, em 2005, e todos que a conheceram gostavam muito dela. Os homens fizeram muita amizade com o Carlinhos nas exposições e rodeios dos arredores. Eles são nossos vizinhos lá pelo lado da fazenda da Mata e da fazenda do Ricardo. Meu tio Diógenes, que adorava essas exposições de gado, falecido há 3 anos - amava uma pinga com um bom churrasco; engenheiro baiano que veio a Minas construir a rodovia BH-Brasília e conheceu minha tia Joana D'Arc em Patos de Minas onde moravam meus avós maternos -, pai da Consuelo e cia, adorava o Carlinhos e a Andréa. Enfim, minha família materna, além de mim, se afeiçoou a ela, e tivemos a oportunidade de nos despedir dela nesses dias mágicos de agosto na fazenda, os quais ela se dedicou a nós, nos trouxe muitas alegrias e nos honrou muito com a presença e com o carinho que nos dedicou; de uma nobreza e estatura sem igual. Inesquecível por onde passou.


Chegando à fazenda dela, no último dia de janeiro, não se sentindo bem, foi levada para Brasília, onde ficou internada, por um mês, na UTI do Hospital Santa Lúcia, lutando pela vida, devido a uma trombose que afetou órgãos vitais; sempre companhada pelos filhos, pelo marido e pelos amigos Nazira e Jamel, que lhes deram todo o apoio. Foi levada ao descanso eterno quando ainda era jovem e cheia de vida, aos 58 anos, em Belo Horizonte; cercada de muitos e muitos amigos que a amavam imensamente.

Andréa era de Caxambu, estudou no Colégio Santo Antônio de BH, quando estudante fez intercâmbio nos Estados Unidos, e deixou amigos sinceros por onde passou. Era uma rainha de simplicidade ímpar. Em B.H., Brasilândia e em Capim Branco (Sete Lagoas e Pedro Leopoldo) - onde têm fazenda -, fazia amigos em padarias, cabeleireiros, manicures, academias de ginástica, clubes, onde ela fosse. Era cuidadosa e amiga de seus funcionários e todos a amavam - como a dedicada Conceição.

Na fazenda, pegava no pesado, cozinhava, arrumava, jardinava, fazia compras. Sempre na dela, segura, inteligente, ativa, simples, estável, dinâmica, engraçada, sensata, discreta, generosa ao extremo e feliz. Sim, a alegria e o sorriso dela contagiavam, e todos queriam a sua companhia.

Dedicou a vida aos filhos João Carlos e Camila, amores de sua vida, e ao companheiro de todas as horas, Carlinhos Queiroz, de Patos de Minas. Falava muito da família, que tanto amava - dos pais, da irmã Patrícia, da sogra, dos primos e dos tios queridos. Não se pode falar da Andréa sem falar de suas amigas inseparáveis, muitas vindas bem antes de nós - a Turma do Ponteio, como Cotinha, Glaucilene, Glemer, Sthelinha, Claudinha, Mônica, Nazira e família, e muitas outras. Ela amava viajar com elas, e juntas correram o mundo, da China à África do Sul, da Jordânia ao Canadá. Era extremamente fiel à família e aos amigos e também aos animais - cuidou da Fiona com muito carinho até o final de sua cachorrinha e companheira. Nos últimos anos, atingiu a maturidade e a alegria maior, sendo avó da Maria Luíza, a Malu, a quem amava de paixão (fez o último Natal especialmente para ela), filha do João e de sua nora Polyana, que ela amou desde o início do namoro.

Agradeço a Deus por ter-me dado a oportunidade de conviver com essa amiga tão amada. Nós, suas amigas, que nos conhecemos na academia do Ponteio e convivemos muito próximas nos últimos 20 anos, tínhamos uma grande amizade, cheia de amor, de risos, de apoio uma à outra e de cumplicidade. Vimos nossos filhos crescerem e se casarem. Nossos maridos respeitavam nossa amizade intensa e sincera e se tornaram amigos. Temos muitas lembranças juntas e muitas histórias para contar, que o digam a Cídia e a Mônica, que viveram intensamente com ela.

O exemplo de vida que Dedeia nos deixou, seu equilíbrio e alegria de viver, levaremos sempre em nossos corações. Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, mesmo que o tempo e a distância digam não; assim falava a canção que em B.H. ouvíamos...

Saudades eternas de suas amigas do Ponteio: Mônica de Araujo Couto, Cidia Melo Fonseca, Patrícia Magda Souza Rocha, Vera Passos Azeredo, Maria Celia Mendes, Mônica Virginia Souza Abreu, Luiza Lanna, Glayce Cristina, Adriana Ziviani e Raquel Teles Yehezkel






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