domingo, 16 de abril de 2017

PÁSCOA JUDAICA / PESSACH / PASSOVER

Páscoa Judaica / Pessach / Passover

Hoje às 6 da tarde começa a Semana de Pessach, a Páscoa judaica, Passover ou Passagem. É a saida do povo judeu do Egito: "Deixe meu povo ir", disse Moisés ao Faraó.

Pessach é cheio de simbologias. São muitas as passagens: é a passagem do Anjo da Morte que saltou as casas dos judeus no Egito, cujos umbrais das portas estavam marcados com sangue de cordeiro (hoje marcados pelas mezuzás), poupando-lhes os primogênitos; é a passagem do mar Vermelho que se abre para o povo judeu atravessá-lo; é a passagem do inverno para a primavera; mas é sobretudo a passagem da escravidão para a liberdade.

E assim comemoramos todos os anos, o Leil haSeder (Noite de Pessach), para lembrarmos que escravos fomos no Egito e escravos não seremos nunca mais. B"H. Esta noite e esta semana são diferentes de todas as noites e de todas as semanas do ano, pois nela não se come nada de farinha ou grãos, come-se sobretudo a matsá/ pão àzimo, sem fermento, um tipo de biscoito água e sal 20x20cm, para lembrar os 40 anos que os judeus viveram no deserto sem fermento para fazer o pão.

Nesta noite, a grande familia se reúne para um banquete e juntos leem A Agadá, um livreto que reconta a saga da libertação do povo judeu no Egito. E a noite segue uma ordem / Seder, por isso se chama Leil HaSeder, pois durante a leitura come-se folhas amargas para lembrar como era amarga a vida na escravidão; come-se harosset, uma mistura de tâmaras ou maçãs com castanhas, que simboliza o barro, a argamassa com que os escravos construíram os monumentos no antigo Egito; come-se ovos, simbolizando um novo começo, e canta-se várias canções que recontam a história. Nessa leitura, as crianças fazem perguntas e o avô ou o pai, o mais velho, que conduz o Seder, tem a oportunidade de responder e de recontar a história. E toma-se muito vinho.

É uma noite alegre, de rememoração. E durante uma semana comemora-se Pessach. Não se come nada de farinha toda a semana. As confeitarias, macdonalds, hamburguerias, falafels ficam fechados toda a semana. Os supermercados cobrem todas as prateleiras de produtos que levam farinha ou fermento. Em casa, troca-se todos os pratos, panelas, copos e talheres para outros que só se usam em Pessach.

Tudo isso para que lembremos que esta é uma semana diferente, uma semana de passagens...

Texto de Raquel Teles Yehezkel
Israel 10.4.2017


Pessach 2021




sábado, 15 de abril de 2017

DORES DO INDAIÁ E SEUS CAMPOS VERDEJANTES

Certa vez, o cronista Roberto Pompeu de Toledo, em crônica na última página da revista Veja (12.10.2007), quando falava sobre feiúra e beleza de nomes das cidades brasileiras, disse que "Há nomes de uma beleza triste...", e após citar cerca de uma dezena de cidades com nomes estranhamente poéticos, terminou o artigo assim: "Dores do Indaiá, no coração de Minas, é dos nomes mais bonitos do Brasil. Merece fechar este I Concurso de Beleza de Nomes das Cidades Brasileiras, criado e desenvolvido por este colunista, que foi ainda seu único e solitário juiz".

Eu e meus conterrâneos, claro, endossamos rapidamente esse concurso... rsrsrs Mas, meu pai, vivo àquela época, iria muito muito mais longe, pois sempre elegeu Dores como o mais belo município do mundo... talvez perdesse apenas para a beleza imaginada dos campos da Itália, terra de seus ancestrais maternos, onde nunca chegou a pisar. Uma vez, quando ele estava bem velhinho, eu visitei a Irlanda com meu marido (fomos ver um show de Neil Young em Dublin e outro de Crosby, Still e Nash em Cork) e tirei fotos lindas dos campos irlandeses, com pequenas propriedades rurais e gado nos pastos tranquilos. Ao retornar a Belo Horizonte e visitá-lo, então vivendo os últimos anos de sua vida no apartamento de mamãe no Luxemburgo, quis mostrar-lhe as lindas fotos rurais da Irlanda. Sabendo que a visão de campos verdejantes o alegrava, tive o disparate de inventar que aquelas fotos eram na Itália, só para ver a alegria se estampar no rosto dele. E, aos 97 anos, ele me disse que ainda sonhava visitar a Itália. Dessa forma, sentado à frente da tela do computador, lhe proporcionei um passeio por terras ancestrais...

Mas, voltando à Dores do Indaiá, terra boa de morar, como ele costumava brincar, não havia uma única vez que viajássemos por esses descampados de colinas verdes a perder de vista, que ele não exaltasse a beleza desses campos, das águas que banham toda a região, dos nossos belíssimos coqueirais de indaiás e macaúbas, da vista azul da Serra da Saudade e do gado bem alimentado nos pastos.

Pensar em Dores do Indaiá é voltar a Emídio Teles de Carvalho (por isso retorno sempre que posso), que, filho dorense há gerações, amava seu torrão natal e o cantava em versos e em qualquer conversa que tivesse oportunidade. Nunca conheci ninguém que tanto amasse a terra natal e esse amor obviamente entranhou-se em meus irmãos e em mim.

Em um de seus poemas, papai pede para ser enterrado em Dores, e que lhe deixássemos uma pequena fresta para que pudesse ver esses "belos campos alcatifados de flores". E assim o fizemos, atendendo a seu pedido, descansa em sono eterno junto a seus pais, irmãos e sobrinhos, no túmulo dos Telles de Carvalho, que ele mesmo mandou construir, à direita de quem entra na rua principal do cemitério Cristo Rei, em Dores do Indaiá.

Texto de Raquel Teles Yehezkel

Dores do Indaiá by Eduardo Guimarães