terça-feira, 25 de março de 2014

EMÍDO TELES DE CARVALHO: ORANDO DE JOELHOS



ORANDO DE JOELHOS

Emídio Teles de Carvalho, Dores do Indaiá 1966

Encontrei no seu quarto, de madrugada,
Minha mãe rezando ajoelhada
Com o terço entre os dedos da mão.
Gravei no subconsciente essa lembrança
Esse ardor de fé e crença
Dessa santa de joelhos calejados do chão.

Perguntei às flores dos palmeirais
Perguntei ao vento que soprava os bananais
Interroguei também à madrugada
Perguntei à cruz velha da praça
Fitando o seu histórico braço
Se ouviram a prece de minha mãe amada!

Enfim, perguntei às estrelas e à lua
Que iluminava a praça e a rua
Se ouviram minha mãe a Deus
Orando, lá no seu cantinho
Apertando a cruz no peito seu!



Texto do meu pai, Emídio Teles de Carvalho, de abençoada memória: "Sempre que eu voltava de alguma viagem, antes mesmo de chegar a minha casa, passava pela casa de minha mãe, que fica na Praça dos Coqueiros. Sabendo que eu chegaria, ela sempre me esperava acordada. Numa dessas vezes, voltando de Patos de Minas, passava de uma da madrugada, quando, como de costume, passei por sua casa. Achei que era tarde demais para encontrá-la acordada, mas encontrei-a esperando, rezando de joelhos no chão. Dessa imagem me veio a inspiração para esta poesia, a qual dedico com muito carinho à minha querida mãe: dona Clarinda Theodora de Carvalho" (Texto publicado no jornal de Dores do Indaiá, "O Liberal" em 31/07/2000, pelo jornalista Antonio Lopes Cançado. O poema é de 1966.



Clarinda Teles

Emídio Teles






terça-feira, 18 de março de 2014

PURIM E OS CARNAVAIS DE MINHA INFÂNCIA

Sempre fui dessas que choram em casamentos, formaturas, discursos e filmes. Mas não sei apontar com precisão quando foi que me tornei uma manteiga derretida. Purim é a festividade mais alegre do calendário judaico, comemorada nos quatro cantos de Israel com muita música, dança, fantasias, bebidas, chocalhos, máscaras. Na verdade, Purim celebra a vitória dos mais fracos sobre os mais fortes: a salvação do povo judeu contra o extermínio planejado pelo malvado grão-vizir Haman, conselheiro do rei da Pérsia, Ahashverosh / Assuero, cerca de 400 a.C, tal como está escrito no Antigo Testamento. Um dos mandamentos para a festa é ouvir a história do Livro de Ester (Meguilá de Ester), outro, é comemorar muito, “ad lo yedá”, algo como: “até perder a cabeça”. Semelhante ao Carnaval, não é mesmo? E, certamente, não há lugar para tristezas.

Este ano fui à parada da cidade em que moro, Ramat Hasharon. Uma cidade pequena, tipo um bairro de Tel Aviv, com aproximadamente 40mil habitantes. O tema do desfile aqui foi “Anões e Gigantes” e a música tema foi “Hagamadim” do maior cantor e compositor israelense, Arik Einstein, falecido recentemente. O desfile foi aberto por carros antigos de moradores locais, havia também pequenos carros alegóricos que homenageavam filmes como “Hulk”, “Shrek”, “King Kong”, os gigantes (ou monstros). Todas as escolas públicas e escolinhas de ginástica, balé, dança, música, judô, teatro, circo, quase todas sustentadas com subsídio público, estavam representadas na avenida, inclusive a escola de ensino médio do meu filho, Beit Sefer Alon. Ao ver ali na rua, centenas de crianças e jovens desta cidade, com as famílias em pé a aplaudi-los, fui remetida como num raio aos carnavais ingênuos de minha infância e aos desfiles de minha pequena cidade natal no interior de Minas, às festas em que se encontravam nas ruas famílias, jovens, velhos e crianças. E como no livro “Em busca do tempo perdido”, de Marcel Proust, em que o cheiro, sons e paisagens desencadeiam sensações a muito esquecidas, desatei em choro incontido. E soube no exato momento que eu chorava pela ingenuidade perdida em nossos carnavais e também pela esperança contida no futuro dos jovens que agora desfilavam na avenida.

Acho que as prefeituras, em especial as prefeituras de cidades pequenas como Dores do Indaiá, deveriam buscar voltar às raízes, aos carnavais de sua origem, nos quais as marchinhas, os samba-canções e as danças do congado fossem o mote. Onde a bebida não fosse o principal da festa, mas a alegria e o encontro entre amigos e familiares. Um carnaval alegre, com desfile de blocos de escolas e de blocos de congados, como foi sugerido por um conterrânea no grupo Histórias de Dores do Indaiá. E, como soube, aconteceu este ano e no ano passado no Novo Carnaval de Beagá.

Enfim, cada olhar traz consigo uma história de vida, e o que se vê é um pouco o que se vê e um pouco a própria bagagem que se carrega. E foi nesse tempo perdido que viajei hoje enquanto estava na Avenida!

תמיד הייתי מאלה שבוכים בחתונות , סיום לימודים, נאומים וסרטים. אבל אני לא יכולה להצביע מתי זה היה כי נהפכתי לבכיאנית מדרגה ראשונה. לדוגמא, היום הוא חג פורים , החג השמח ביותר בלוח השנה היהודי, שחוגגים עם הרבה מוסיקה, מחול , תלבושות , משקאות , רעשנים , מסכות . כמעת כמו בקרנבל בברזיל. ואכן, בפורים חוגגים את הנצחון של החלש על החזק ,גאולתו של העם היהודי נגד ההשמדה המתוכננת על ידי הרשע אמן, יועץ למלך פרס, Hahashverosh , כ400 לפנה"ס , כפי שכתוב בתנ״ך . אחת המצוות ליום הזה הוא לשמוע את הסיפור ממגילת אסתר, והשני הוא לחגוג "עד לא ידע" , דומה לקרנבל, לא? אז אין מקום לבכי...

היום הלכתי למצעד העיר שבה אני גרה , רמת השרון . עיירה קטנה , כמו שכונה של תל אביב , כ 40 אלף תושבים. נושא המצעד היה " גמדים וענקים " ומוסיקה ראשי הייתה " Hagamadim " של אריק איינשטיין , זמר לאומי שנפטר לאחרונה. המצעד נפתח על ידי מכוניות ישנות של המקומיים, גם משאיות שמזכרים סרטים כמו " הענק הירוק ", "שרק ", " קינג קונג " . כל בתי הספר הציבוריים וחוגים עירוניים היו מיוצגים בשדרה: התעמלות , בלט , מחול, מוסיקה , ג'ודו , תיאטרון, קרקס, כולל התיכון איכן הבן שלי לומד , בית ספר אלון . כאשר ראיתי ברחוב מאות ילדים ובני נוער של העיר הזאת , עם משפחות עומדות וצופות בם , זה הטיס אותי לקרנבלים התמימים של ילדותי וגם ולמצעדים של העיר הולדתי הקטנה שבברזיל , כאשר משפחות עם ילדים , צעירים ומבוגרים חגגו ביחד. וכמו בספר "בחיפוש אחר זמן האבוד" מאת מרסל פרוסט, אשר ריח, מראות וצלילי שנשכחו מחזירים לזמן כבר אבוד, פרצי בבכי בלתי נשלט. וידעתי שאני בוכה על התמימות שנאבדה בקרנבלים של היום בברזיל וגם בוכה לתקווה הכלולה בעתיד של הצעירים שעכשיו צועדים בשדרה.

ככה זה, כל אחד שמסתכל רואה את העולם עם העניים של סיפור חייו. ומה שרואים הוא מעט ממה שאתה רואה באמת וקצת מטען עצמו. וזה מה שקרה לי היום כאשר הייתי בשדרה: טסתי אל תוך זמן האבוד של ילדותי!