Chegou até mim em 29.1.2015 um documento oficial da Academia de Língua Hebraica, versando sobre o emprego de "portuguesit" ou "portugalit", discussão que julgo muito importante, por isso compartilho com vocês, brasileiros, falantes da vertente brasileira do português em Israel, um artigo em que defendo continuarmos especificando a nossa língua como "portuguesit". E explico por quê.
A recomendação pelo termo "portugalit" para designar a língua que falamos é uma norma da Academia de Língua Hebraica, que, embora esteja baseada em estudos do comportamento da língua, é uma imposição de cima para baixo, da Academia para os falantes, baseada no uso formal da língua hebraica. No entanto, é sabido que nem sempre a recomendação se confirma na realidade em uso.
As normas são a tentativa de uma descrição da língua em uso e não o contrário. Elas são importantes para manter a unidade da língua oficial, documental, formal e a identidade de um país e de um povo. Têm suma importância. Mas a língua usada de forma coloquial e compreendida entre os falantes da mesma língua pode um dia vir ser a normativa por ser a forma dominante, usada pela maioria dos falantes daquela língua. Nesse caso, se a maioria dos falantes de hebraico optarem por falar "portuguesit", com o tempo a Academia vai abranger o termo mais usado e incluí-lo na forma normativa. É assim que funcionam as línguas, elas são vivas e mutantes.
Atualmente, grande parte dos israelenses, talvez a maioria, fala "portuguesit", e todos entendem e está bem assim. Daí a necessidade deste documento que a Academia publicou, com número e tudo mais. Se não estivéssemos na encruzilhada que divide o uso entre o "portuguesit" e o "portugalit" não teriam levantado tal discussão.
Assim sendo, partindo de pressupostos sobre o funcionamento da língua como defendido por Possenti (1996) e Bagno (1999), de que a língua a se tornar normativa é aquela falada pela maioria ou a língua dos interesses e do poder, faço a opção pelo termo "portuguesit", continuando a insistir em seu uso, para que com o tempo ele se firme e a Academia o incorpore. Como falante da vertente brasileira, não tenho interesse de que nossa língua seja literalmente a língua de Portugal = portugalit. Portuguesit também advém de Portugal, mas mantém uma distância maior, dando maior flexibilidade e legitimidade ao português do Brasil de ser como ele é, reforçando as nossas diferenças, mesmo sendo usuários da mesma língua.
Quando digo "portugalit" estou aceitando o português de Portugal como modelo primário. Essa é minha opinião, como amante da língua portuguesa. Nesta perspectiva, nós, brasileiros em Israel, podemos continuar a nomear nossa língua de "portuguesit" e não "portugalit". Com o tempo, a nossa vertente, nosso modo de falar, acabará sendo reconhecido pela Academia: o "portuguesit" do Brasil e não o "portugalit" do Brasil.
Raquel Teles Yehezkel
Texto publicado no FB em 29.1.2015
Citação do site da Academia de Língua Hebraica, acessado em 29.1.2020
על רקע זה התגבשה מסורת ארוכה של מתקני הלשון להמליץ על הצורה פורטוגלי, ועל דרך זו גם מלטי, בורמי, קונגואי, אנגולי ועוד. עם זאת, כאמור, ועדת הדקדוק של האקדמיה החליטה שלא להתערב בשאלת גזירתם של שמות הייחוס משמות של ארצות וערים בעולם. והרי יש בעברית מקרה אחד ותיק של יצירת תואר ייחוס משם של ארץ בתיווך לשון אירופית: איטלקית (מן היוונית – italikos)
Tradução: "Nesse contexto, uma longa tradição de normas linguísticas foi formulada para recomendar a forma em portugalit e, dessa maneira, também malti, birmani, congoí, angolani e outros.
No entanto, como afirmado, a Comissão de Gramática da Academia decidiu não intervir na questão de derivações de nomes de países e cidades do mundo. Há, em hebraico, um antigo caso de criação de um adjetivo oriundo do nome de um país mediado por uma língua europeia: italikit (do grego - italikos).
Referências:
BAGNO, Marcos: "Preconceito Linguístico - o que é, como se faz". Edições Loyola, São Paulo, 1999.
POSSENTI, Sirio. "Por que (não) ensinar gramática na escola. São Paulo, Ática, 1996.
Site da Academia de Língua Hebraica acessado em 29.01.2020:






