O Natal são dias sensíveis.
Sempre foram.
Sensibilidade contida,
de espera, frio na barriga,
confiança
de que a vida vai ser melhor.
São dias de alegria diferente,
mais contrita.
Muitos preparativos.
Grandes expectativas
ao reunir toda a família.
Esperar que cada um chegue.
Para que a alegria seja plena.
Haja coração.
Tempo de espera...
Uma festa para a qual mamãe ia guardando tudo o que havia de melhor.
Toalhas de mesa, cobre-leitos, toalhas de banho, a melhor louça.
Castanhas, frutas, pernil, peru
- quando em Dores do Indaiá, criava um peru de verdade, e guardava a parreira de uvas e um pé inteiro de jabuticas intocáveis só para aqueles que chegariam.
Tudo para reunir a família.
Completa - a princípio.
E o esforço para se reunir era total.
Uma festa que mamãe nunca deixou de comemorar.
Mesmo nos momentos mais difíceis.
Com grandeza de tudo,
de fartura, de pessoas,
de enfeites, de alegria.
Em seu presépio,
vivo,
a familia reunida à volta
aconchegada.
Tempo de promessas.
Assim era o costume na casa dela,
e assim ela continuou na nossa casa.
Uma confraternização genuína,
de riso solto,
gestos largos,
e abraços estreitos.
Tempo de colheitas...
Quando éramos pequenos e muitos,
e a vida apertava para meu pai,
eles faziam todo o esforço possível
e nunca faltavam os presentes
simples
que achávamos perfeitos:
panelinhas, jogos de chá, bonecas,
jogos de caixa, baralho, livros, gaitas, bolas,
cada um recebia os seus no sapatinho deixado ao lado da cama.
Tempo de sonhos...
No ano passado,
ela já não pôde participar,
mas ainda estava lá,
filhos e netos,
eu também - sempre presente,
mesmo distante.
Este ano, faltou a peça principal,
faltou ela.
Mas lá estava a família,
tentando se reorganizar,
para honrar a sua majestosa presença.
- A bênção, mamãe; a bênção, papai.
- Dormem com Deus.
Tempo de descanso...

















































